“Meu rosto, os tapas, o corte horrível na boca e meu olho com sangue”, diz mensagem de mulher que matou sargento

Justiça manda soltar mulher que confessou homicídio de PM, Nicoly dos Santos alegou legítima defesa após violência doméstica
Sargento Rodrigo e trecho de mensagem de Nicoly: “estava esgotada e não vi mais um futuro com você” – mulher confessou crime porque ele a agredia e a ameaçava de morte. Polícia Civil decidiu não a indiciar por homicídio. (Foto: reprodução)

A Justiça de Alagoas mandou soltar Nicoly dos Santos, 21 anos, que confessou ter matado o seu companheiro, o policial militar Rodrigo Viana Pauferro, que era lotado no Batalhão escolar (BPEsc).

O crime aconteceu no dia 28 de outubro no Residencial Recanto dos Pássaros, no Benedito Bentes.

A polícia Civil concluiu o inquérito e decidiu não indiciar a mulher pelo crime de homicídio por entender que ela agiu em legítima defesa.

A decisão é do desembargado João Luiz Azevedo Lessa. “Ao discorrer sobre os fatos, a Defesa ressaltou que a paciente, na verdade, teria perpetrado a conduta em legítima defesa, pois se encontrava na condição de vítima uma vez que estava sendo agredida por Rodrigo Viana, seu companheiro”.

O inquérito policial foi concluído no dia 9 novembro e foi remetido ao Ministério Público. A defesa de Nicoly entrou com um pedido de habeas corpus, que foi acatado pela Justiça. Na decisão, o desembargador considerou que a mulher era vítima de agressões físicas e psicológicas.

“Consta nos autos que a paciente sofria agressões físicas, psicológicas, sexuais e verbais por parte de Rodrigo Viana, o qual, já possuía histórico de violência doméstica. Sob a ótica dos impetrantes, Rodrigo se utilizava da condição de policial militar para ameaçar e coagir a paciente e, também, suas ex-companheiras”.

O crime ocorreu na casa onde o casal morava. Consta no inquérito policial que Nicoly foi agredida desde a sexta-feira (27), dia anterior ao crime. Os depoimentos da vítima e dos vizinhos são os mesmos: a vítima tentou fugir da residência, quando Rodrigo a puxou pelo cabelo, levando-a de volta para dentro do imóvel.

A tentativa de fuga dela ainda chegou a ser registrada por imagens de videomonitoramento. Durante as agressões, Nicoly foi obrigada a beijar os pés do militar e implorar pela própria vida. Os vizinhos relataram em depoimento que ouviram gritos de Nicoly, momento em que chamaram a polícia.

Quando a polícia chegou ao local, as agressões não pararam. O militar continuou agredindo Nicoly e ameaçou matá-la e depois tirar a própria vida. Foi nesse momento que a mulher viu a arma do militar em um móvel, pegou, fechou os olhos e fez os disparos contra Rodrigo.

“Tendo ela se ajoelhado, beijado os pés do companheiro e implorado. Disse ainda a interrogada que, quando da chegada da polícia, ela estava sobre a cama do casal, sendo esganada pelo companheiro. Na ocasião, sob ameaças de morte, foi obrigada a ficar silente e se manteve parada e sem reação, mas tranquila, pois sabia que a polícia estava na porta”, relata a delegada no inquérito.

Polícia também baseou inquérito em mensagens de Nicoly para a vítima: “não consigo estar com você e esquecer a situação (sic) que ficou o meu rosto, os tapas, o corte horrível na boca e meu olho com sangue”. Investigação não a indiciou por homicídio. (Foto: reprodução/G1–AL)

“Após alguns minutos, Rodrigo retornou ao quarto afirmando que a polícia entraria e os encontraria mortos. Nesse momento, a interrogada, pegou a arma sobre um móvel, apontou para ele na tentativa de impedir sua aproximação, mas não conseguindo, fechou os olhos e atirou”, aponta o relatório policial”.

Relacionamento abusivo

O inquérito policial foi concluído também com base em conversas do WhatsApp entre os dois, que estavam juntos havia três anos. Em uma das mensagens juntadas ao inquérito, Nicoly escreveu:

“Não consigo estar com você e esquecer a situação (sic) que ficou o meu rosto. Os tapas, o corte horrível na boca e meu olho com sangue, entre outras coisas que eu não preciso citar… Coisas desse tipo aconteceram mais de uma vez, mas a noite que me refiro e você sabe, foi a que eu praticamente jurei que iria morrer ali, como você disse”.

Michelle Farias e Viviane Leão, G1/AL

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