O rompimento da mina da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió, deve impactar a lagoa Mundaú, principal fonte para subsistência de pescadores e catadores de sururu.
A velocidade da movimentação de terra oscilava constantemente e o possível colapso pode abrir uma cratera no local.
Neste domingo (10), após o solo afundar 2,35 metros, o teto da mina colapsou, conforme.
A ocorrência foi conformada pela Defesa Civil, em nota oficial.
O órgão também divulgou imagens de câmeras de monitoramento, mostrando intensa movimentação na água, provocada pelo colapso de solo, no fundo.
A mina sob risco é uma das 35 que a Braskem mantinha na região para extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, e parte dela fica sob a lagoa. Em caso de colapso, parte da água da lagoa seria escoada para a cratera formada pela mina, que, segundo as previsões mais otimistas da Defesa Civil, seria do diâmetro de uma piscina olímpica e meia.
“A mina só tem cloreto de sódio. É sódio e cloreto. A nossa única preocupação era que índices de cloreto de sódio e alguns outros compostos que existem na rocha calcária, cálcio, por exemplo, ou algum tipo de magnésio, iam aumentar na lagoa e iam reagir com outros compostos que já estão ali e tornar a lagoa um pouco mais complicada para os organismos, mas o efeito não seria tão negativo, visto o que a já se observa na lagoa”, explica o pesquisador e professor Emerson Soares, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que coordena o projeto Laguna Viva.
A lagoa Mundaú divide os municípios de Maceió, Coqueiro Seco e Marechal Deodoro, onde encontra a lagoa Manguaba. Juntas, elas formam o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM), um dos ambientes mais representativos do litoral alagoano.
Segundo a Defesa Civil, o peso do solo encharcado não deflagraria o colapso, mas pode potencializar o problema. A Braskem afirma que as áreas no entorno da mina foram evacuadas e que o trabalho de preenchimento das cavidades foi suspenso.
O pesquisador, que monitora as condições da lagoa Mundaú, afirma que, embora haja a preocupação com uma salinização maior da lagoa, a poluição na região ainda é o problema mais grave.
Coletas de amostras de água feitas bimensalmente apontaram que a lagoa está poluída por esgotos, agrotóxicos e outras substâncias contaminantes.
“A gente encontra metais pesados em alguns níveis altos, três grandes fontes de esgoto do município de Maceió, que trazem muitos contaminantes, solventes, BTEX, entre outros compostos, que eutrofizam o ambiente e trazem doenças, bactérias e verminoses. Compostos que são cancerígenos que vêm via esgoto”, diz o professor.
Além de esgotos de Maceió e da região metropolitana que chegam à lagoa sem tratamento, agrotóxicos também contaminam a água.
“Agrotóxicos que vêm via Rio Mundaú com os processos erosivos nas áreas marginais, com deflorestação dessas áreas e com lançamento de agrotóxicos nesses terrenos, trazidos pelo rio Mundaú, acabam vindo parar na lagoa. Então esses são os maiores problemas da lagoa atualmente”, afirmar.
Por causa do impacto ambiental causado pelo afundamento do solo na área onde era feita a mineração, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) multou a Braskem em mais de R$ 72 milhões.
Impacto social
O trecho em um raio de 1 km na lagoa Mundaú foi interditado para navegação logo após a divulgação do alerta de colapso, feita no dia 29 de novembro. Segundo a Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura de Alagoas, não há prazo para o fim da proibição.
Isso afetou a economia na região e a vida de aproximadamente 6 mil pescadores e marisqueiros que sobrevivem diretamente da pesca na lagoa e da extração de sururu, um molusco bastante consumido na gastronomia local.
O Governo Federal informou na terça-feira (05) que vai pagar auxílio-financeiro de R$ 2.640 a todos eles, mas esse valor ainda não tinha sido liberado até este domingo (10).
Impacto no turismo
A interdição no mar também afetou quem trabalha com passeios turísticos na lagoa. Donos de catamarã alegam que os passeios têm reunido cada vez menos gente e os barcos, que antes navegavam cheios, agora não atingem sequer 50% de sua capacidade.
Além deles, os artesãos do Pontal da Barra, bairro que fica na outra margem do ponto onde está localizada a mina da Braskem, lamentam a queda no movimento desde o alerta. Embora o local não esteja incluído na área de risco, os comerciantes sentem o reflexo do problema.
Heliana Gonçalves, Roberta Batista, G1/AL