O Arquivo Público de Alagoas inaugura no próximo 17 uma exposição das primeiras produções artísticas de figuras de renome da música alagoana, com direito à execução de algumas em charmosos gramafones, além de trazer jornais, discos e partituras originais.
São talentos da segunda geração nacionalista pós 1922, como o maestro e compositor Hekel Tavares, José Luiz Calazans (Jacaré), Augusto Calheiros, e Sadi Cabral.
O Arquivo Público fica no início da Rua Sá e Albuquerque (Jaraguá – quase em frente prédio da administração do Porto de Maceió), e a mostra permanecerá no local até 31 de janeiro.
Segundo o pesquisador e curador da Exposição, Claudevan Melo, o evento vai proporcionar ao público fácil acesso à cultura erudita através de poemas e suítes sinfônicas, concertos, rapsódia e ópera desses quatro notáveis daquela época.
Será possível ouvir, por exemplo, Concertos de Piano e Violino continuadamente executados por orquestras nacionais e estrangeiras – verdadeiras preciosidades eternizadas nos arquivos pessoais de Claudevan.
“Quem nunca ouviu ou leu elogios ao músico e compositor José Luiz Calazans, conhecido como Jararaca, que também fez teatro humorístico, compôs diversos ritmos e teve várias aparições em filmes nacionais?”, diz o pesquisador.
“Uma pequena mostra da sua arte poderá aguçar os sentidos de visitantes da exposição”.
“E tem também algumas criações de Augusto Calheiros, cantor e compositor com sólida vida artística entre a Velha Guarda Carioca”, acrescenta.
Outro nome cujo merecido espaço é proporcionado pela exposição é Sadi Cabral, ator de rádio, teatro e cinema e que também enveredou pela música, deixando belas e inesquecíveis melodias.
Já Augusto Calheiros, outro ícone da exposição, foi “crooner” do Conjunto Turunas da Mauriceia (em 1927).
“Após desfeito o grupo, seguiu carreira solo até seu falecimento”, diz o curador.
Para muitos, o detentor do acervo, Claudevan Melo, merece um livro sobre sua incrível e ininterrupta batalha pela identificação, localização e aquisição de toda e qualquer obra de arte (musical, preferencialmente) produzida por artista de Alagoas.
Dedicado especialmente à música e artes cênicas, esse Dom Quixote nascido em Rio Largo, ao contrário do personagem imortal de Cervantes, é muito bom de cuca, domina estratégias e táticas em suas lutas.
Também diferentemente do “engenhoso fidalgo de La Mancha” Claudevan é um cavaleiro solitário, há décadas, dispensando Sanchos Panças nessa sua longa jornada.
Metalúrgico especializado nos anos 70, hoje aposentado, recebe carinhosamente a definição de alguém que “é produto de um tempo em que a ferramentaria era a elite operária mundial, e a compreensão das coisas do mundo ia muito além do chão de fábrica”.
Desde muito jovem, recém-saído do SENAI, em São Paulo, soube dividir o salário incluindo o colecionismo na divisão do “holerite” como necessidade básica. E começou a caçar peças da memória cultural e musical alagoana pelas feiras, antiquários e leilões, incialmente, nos mercados de velharias em solo paulistano e carioca.
Acervo
O volume do acervo é definido como não menos que “faraônico”, não pela opulência, mas, pela dedicação – afinal, é fruto de nada menos que meio século de buscas e aquisições (e doações).
“Para se ter uma ideia da grandeza, basta dizer que foram transportadas de São Paulo para Maceió quatro toneladas de raridades, dentre as quais cinco mil discos (em cera de carnaúba, 78 rpm)”.
“Nesses antigos registros fonográficos estão contidas as primeiras gravações de vozes alagoanas e/ou canções compostas por alagoanos”.
“Só na preparação dessa sua mudança, Claudevan investiu dois anos de trabalho minucioso, executado sozinho, sem ajuda do poder público ou de empresa privada”.
Mas, em 2022, o tesouro alagoano recolhido mundo afora chegou à Maceió.
Segundo os apoiadores da exposição, “apesar das tentativas constantes para viabilizar uma parceria, pública ou privada, para um projeto capaz de abrigar de forma segura e perene esse monumental patrimônio cultural, nenhum avanço significativo aconteceu”.
“O metalúrgico continua como banqueiro individual de seu capital, um capital que deseja coletivizar – mas com a devida segurança para o futuro da gigantesca botija desenterrada”.
Com informações — Elisana Tenório — assessoria