Aos inimigos, a lei

Chocante não é o tratamento pesado para crimes como furto (que devem ser punidos); é a brandura com os poderosos
Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira, responsáveis pelo rombo no grupo Americanas: “lei é branda – e o crime parece sempre compensar”, diz revista. (Foto: reprodução)

A revista Piauí compara tratamento “pesado” da justiça brasileira para pequenos crimes, em comparação com a forma branda com que trata responsáveis por fraudes como a que vitimou o grupo americanas, prejudicando milhares de empregados e fornecedores.

Na imagem, os três

Americanas e a mão pesada contra “pequenos furtos”

Doze chocolates surrupiados: um ano e quatro meses de prisão. Nove bonecas: cinco anos e quatro meses. Fraude contábil de 45 bilhões: ninguém é culpado. Para empresários como Jorge Lemann a lei é branda – e o crime parece sempre compensar

Por Rogério Gentile e Thallys Braga – @revistapiaui

Numa tarde de abril passado, Wilame entrou em uma unidade das lojas Americanas em São Manuel, no interior paulista, e se dirigiu ao corredor dos doces. Ele colocou um par de chinelos e dois pacotes de biscoito Club Social na cesta de compras. Seguiu para o caixa, mas não concluiu o pagamento – sua carteira não estava no bolso. Então disse ao atendente que voltaria logo mais para buscar os produtos e deixou o estabelecimento.

O funcionário ficou cismado com a situação e, por prudência, pediu para checar as imagens das câmeras de segurança. Achou o que procurava: Wilame havia colocado doze barras de chocolates dentro das calças antes de sair da loja. A Guarda Municipal foi acionada e agiu rápido em busca do homem que levou os 12 chocolates. Com as descrições físicas do suspeito em mãos, os agentes levaram cerca de uma hora para localizá-lo nas redondezas. O homem de 32 anos confessou o furto. Disse que morava na rua havia dois anos e fazia uso de álcool e crack. Com a venda das barras de chocolate, conseguiu 30 reais para comprar dois pães, um pedaço de bacon, dois cigarros e uma caixa de fósforos.

A fiança foi arbitrada em 1.300 reais, cerca de um salário-mínimo, mas ele não tinha o dinheiro. Embarcou então no carro da polícia e viajou 63 km até a penitenciária do município vizinho de Itatinga. A Defensoria Pública determinou que o advogado George Francisco de Almeida Antunes atuasse em sua defesa.

Com Rogério Gentile e Thallys Braga – @revistapiaui

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