A Polícia Civil realizou nesta sexta-feira (19) uma operação em Maceió para cumprir sete mandados de busca e apreensão contra estudantes de escolas particulares suspeitos de manipular imagens pornográficas sobrepondo rostos de outras adolescentes por meio de Inteligência Artificial (IA).
A maioria das vítimas são colegas de escola.
A Operação foi denominada Deepfake.
Os mandados foram cumpridos em bairros de classe média alta da cidade, como Ponta Verde, Jatiúca, Mangabeiras e Serraria, além da cidade de Marechal Deodoro, na região metropolitana.
Foram apreendidos smartphones, tablet e notebooks.
O material passará por análise da perícia técnica para descobrir a rede de produção e distribuição das imagens.
Segundo as investigações, os estudantes suspeitos têm idades entre 14 e 17 anos.
As imagens pornográficas manipuladas com auxílio de IA eram compartilhadas em grupos de WhatsApp.
Os adolescentes podem responder por atos infracionais análogos aos crimes de associação criminosa, divulgação de imagens pornográficas de adolescentes, difamação e falsidade ideológica.
Como eles são menores de idade, os pais dos suspeitos também podem ser responsabilizados e processados judicialmente.
O delegado Daniel Mayer, que participou da operação, disse que as imagens falsas produzidas pelos jovens impressionam pelos traços de realidade.
“A inteligência artificial elimina essas barreiras que demonstram a falsidade da foto”.
“São imagens extremamente verossímeis, que quando você olha, não consegue distinguir qualquer traço de falsidade”, disse o delegado.
A polícia ainda está fazendo um levantamento de quantas pessoas foram vítimas dos jovens, mas já tem o relato de pelo menos 12 adolescentes, todas meninas, que procuraram a Polícia Civil e fizeram a denúncia.
A suspeita é de que existam mais vítimas.
Segundo o delegado, alguns depoimentos são gravíssimos.
Uma das vítimas ficou um tempo sem conseguir sair de casa e chegou a ter dúvidas sobre a foto, de tão perfeita que foi a montagem.
“Ela olhou para a foto e imaginou: ‘Será que não fui eu que tirei por acaso, por um descuido, apertei e saiu?’. Ela ficou olhando para a foto sem conseguir identificar algum traço de falsidade, até que olhou o ambiente todo que circundava a foto e disse ‘não, essa aqui não sou eu, isso aqui foi realmente forjado'”, relatou o delegado Daniel Mayer.
Pais de suspeitos alegam “brincadeira”
Os mandados foram cumpridos nas primeiras horas da manhã e os policiais encontraram os pais dos suspeitos em casa durante as buscas.
O delegado disse que a maioria, ao saber do motivo da presença da polícia, tentou justificar a atitude dos filhos amenizando a situação, alegando que tudo não passou de uma brincadeira.
“Quase todos agindo de forma a proteger e tentar justificar as atividades dos filhos como se fosse uma mera brincadeira e que isso estava sendo, digamos assim, tirado de contexto”.
“Não é brincadeira, isso é gravíssimo, isso destrói pessoas por dentro”.
“Alguns adolescentes [suspeitos], a maioria, sinceramente, eu não percebi qualquer reação”.
“Um deles, enquanto estávamos efetuando a busca, foi calmamente escovar os dentes, não parecia estar ligando muito”, disse Mayer.