Zagallo morre aos 92 anos no Rio de Janeiro

Campeão em quatro Copas do Mundo e um dos maiores da história do futebol
Tetracampeão do mundo, Zagallo morre aos 92 anos. (Foto: reprodução/Lucas Figueiredo/CBF)

O tetracampeão mundial Mário Jorge Lobo Zagallo morreu aos 92 anos no Rio de Janeiro. A informação oficial foi feita por meio das redes oficiais do tetracampeão. A causa da morte, no entanto, ainda não foi divulgada.

“É com enorme pesar que informamos o falecimento de nosso eterno tetracampeão mundial Mario Jorge Lobo Zagallo.

Um pai devotado, avô amoroso, sogro carinhoso, amigo fiel, profissional vitorioso e um grande ser humano. Ídolo gigante. Um patriota que nos deixa um legado de grandes conquistas.

Agradecemos a Deus pelo tempo que pudemos conviver com você e pedimos ao Pai que encontremos conforto nas boas lembranças e no grande exemplo que você nos deixa.”

Infância e começo no futebol

Zagallo nasceu na cidade de Atalaia, em Alagoas, no dia 9 de agosto de 1931, mas só ficou no estado alagoano por 8 meses.

Sua família se mudou para o Rio de Janeiro por causa do trabalho e, na então capital do Brasil, ele cresceu e construiu sua vida.

Desde os tempos de escola, Zagallo mostrava que era diferente e poderia brilhar no futebol.

Apesar disso, seu pai, Aroldo, fez com que o filho entrasse para o curso de Contabilidade, para ajudá-lo na fábrica de tecidos da família. Mas seu irmão, Fernando, convenceu o pai a deixar o irmão seguir o sonho no futebol.

Sócio do América-RJ, clube do seu coração, Zagallo iniciou a carreira no próprio clube, disputando as divisões amadoras.

Se tornou atleta profissional aos 17 anos, com a camisa do América, em 1948. Pela equipe conquistou o seu primeiro título, o Torneio Início de 1949.

Zagallo era ala esquerdo, mas se destacava pela sua habilidade técnica e velocidade, sendo considerado um jogador à frente de seu tempo por conseguir desempenhar um bom papel defensivo e ofensivo.

Zagallo no Flamengo

Por ter se destacado no América-RJ, Zagallo foi contratado pelo Flamengo em 1950 e conquistou o tricampeonato carioca (1953, 1954 e 1955). Em 205 jogos (128 vitórias, 38 empates e 39 derrotas) marcou 29 gols no Rubro-Negro.

Pelo clube, ele chegou na Seleção Brasileira e disputou a Copa do Mundo de 1958, conquistando o primeiro mundial do Brasil, na Suécia.

Logo após, Zagallo deixou o Flamengo, a contragosto, segundo uma entrevista dada para o livro “Mário Jorge Lobo Zagallo: Entre o Sagrado e o Profano, uma história de vida”.

Proposta do Palmeiras, escolha pelo Botafogo e idolatria

Com a saída do Flamengo, Zagallo recebeu diversas propostas. Entre elas, da Portuguesa–SP e do Palmeiras.

Ainda de acordo com depoimento dado pelo Velho Lobo no livro ele não aceitou se mudar por causa de sua esposa.

Alcina, que era professora, perderia as aulas se o casal fosse para São Paulo.

“Eu não queria sair do Flamengo”, relata.

“O Fleitas Solich (técnico) e o diretor Fadel vieram até minha casa e conversaram comigo. Me lembro até hoje das palavras que disse: ‘Eu não estou querendo sair, eu já tinha proposto a vocês que eu daria o meu passe em troca de um emprego na Caixa Econômica’, que era a minha garantia de futuro. ‘Eu estou jogando, mas estou pensando sempre em frente e até hoje vocês não me ouviram’. Aí veio a Portuguesa–SP me oferecendo 3 milhões, o Palmeiras oferecendo 5 milhões, e eu acabei aceitando ir para o Botafogo por 3 milhões. Por quê? Porque o Botafogo era um time bom, além disso minha mulher era professora e ela ia perder todas as aulas dela se eu fosse para São Paulo”, disse.

A decisão se mostrou acertada nos anos seguintes. Pelo clube da estrela solitária, Zagallo foi bicampeão carioca (1961 e 62), além de conquistar o Torneio Rio-São Paulo duas vezes, em 1962 e 64.

Foi um dos principais nomes em um dos times históricos da equipe alvinegra, ao lado de Garrincha, Didi e Nilton Santos. Até que decidiu se aposentar dos gramados, em 1965.

Zagallo treinador

Meses após se aposentar como jogador, Zagallo decidiu dar início a sua carreira de treinador e passou a comandar a equipe juvenil do Botafogo em 1966.

No ano seguinte, passou a comandar o time principal do Botafogo e foi bicampeão carioca, nos anos de 1967 e 1968 e campeão da Taça Brasil, atualmente considerado o Campeonato Brasileiro, também em 68.

Em 1969, deixou a equipe carioca para ser treinador da Seleção Brasileira e comandar o Brasil na conquista do tricampeonato de 1970, no México.

Volta ao Rio de Janeiro para treinar o Fluminense e o Flamengo

Após conquistar mais uma Copa do Mundo, dessa vez como treinador, Zagallo voltou ao Rio de Janeiro para treinar o Fluminense e mais uma vez conquistar o Campeonato Carioca, em 1971.

No ano seguinte, trocou o Tricolor das Laranjeiras pelo Flamengo, sendo campeão carioca no mesmo ano.

Foi no Rubro-Negro, inclusive, que Zagallo conquistou seu último título como treinador. Foi em 2001, na extinta Copa dos Campeões. No mesmo ano, foi campeão carioca.

Zagallo ainda treinou o Vasco, em 1980, tendo comandado todos os grandes do Rio, mas sem o mesmo sucesso.

Seleção Brasileira e o maior campeão do mundo

Zagallo é, até hoje, o recordista em conquistas da Copa do Mundo, sendo tetracampeão mundial. As primeiras duas conquistas foram como jogador, em 1958 e 1962, sendo um dos destaques do Brasil nos dois títulos.

Em 1970, já como treinador, comandou o Brasil ao tricampeonato, com uma Seleção que é considerada por muitos uma das melhores de todos os tempos e a última Copa de Pelé.

Na Copa do Mundo de 1994, fez parte da comissão do treinador Carlos Alberto Parreira, como auxiliar técnico, para ajudar o Brasil a quebrar um tabu de 23 anos sem conquistar um título mundial.

Zagallo ainda comandou a Seleção Brasileira em mais duas Copas, as de 1974 e 1998, sendo vice-campeão na última.

Seu último título com a amarelinha foi a Copa América de 2004, novamente como auxiliar de Parreira.

Ao todo foram 35 jogos pela Seleção Brasileira, sendo 29 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Já como treinador foram 135 jogos, com 99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas.

Número 13

Comumente associado ao azar, o número treze sempre teve uma grande ligação com Zagallo, que supersticioso, sempre considerou o número como da sorte e o número o “perseguiu” durante toda a carreira.

A origem da ligação de Zagallo com o número 13 se deve à sua esposa, devota de Santo Antônio, celebrado no dia 13 de junho, e o seu casamento ter sido realizado no dia 13 de janeiro de 1955.

Aparições do número 13 na trajetória de Zagallo:

1958 e 1994 são anos cuja soma dos últimos dois dígitos (5+8 e 9+4) dá treze.

A edição da Copa do Mundo em 62 foi no Chile (5 letras): 6 + 2 + 5 = 13.

A edição da Copa do Mundo em 70 foi no México (6 letras): 7 + 0 + 6 = 13.

O Mundial de 1958 foi realizado no Reino da Suécia: 13 letras.

A semifinal da Copa de 58 foi a 13ª vitória do Brasil em Copas

Em 1962, Zagallo completava 13 anos de carreira como jogador profissional.

Em 1979, no décimo terceiro ano como treinador, foi campeão saudita com o Al-Hilal.

Em 1962 e 1994, a Seleção disputou a semifinal em 13 de junho e 13 de julho, respectivamente.

O nome de Roberto Baggio, que perdeu o pênalti que decretou o tetra em 94, possui 13 letras.

A palavra “tetracampeões” possui 13 letras.

Fez sua primeira partida pelo Botafogo no dia 13 de julho de 1958: 2 a 1 sobre o Fluminense.

Seu 13º jogo pela Seleção foi sua maior vitória com o Brasil: 7 a 0 no Chile, em 1959.

A estreia na vitoriosa Copa América de 1997 foi em 13 de junho: 5 a 0 contra a Costa Rica.

Em 97 conquistou a Copa das Confederações FIFA na “Arábia Saudita”: 13 letras.

Em 1967, estreou como treinador do Botafogo e conquistou o Campeonato Carioca: 13 letras

Em 1967, estreou como treinador do time principal do Glorioso e conquistou o Campeonato Carioca: 6 + 7 = 13.

Em 2004, o Brasil conquistou a Copa América sobre a Argentina. “Brasil campeão”: 13 letras. “Argentina vice”: 13 letras.

Trabalho fora do futebol

Em 2005, Zagallo foi um dos três jurados do reality show esportivo Joga 10, transmitido pela Band. Além de Zagallo, o programa contava com a participação dos ex-jogadores Dunga e Bebeto.

No programa, crianças que nunca tiveram oportunidades no mundo do futebol eram avaliadas pelos três campeões do mundo e o vencedor ganharia um estágio de 15 dias na categoria sub-15 do Corinthians.

Mais de 40 mil crianças se inscreveram para participar do reality show e 43 passaram para a segunda fase, até que 22 garotos foram selecionados para o período de testes no programa.

O vencedor do reality foi Luan Andrade Santana, que atualmente defende o Gama, de Brasília.

Casamentos e filhos

Zagallo foi casado com Alcina de Castro Zagallo por 57 anos.

Os dois se conheceram quando o Velho Lobo ainda estava começando a carreira, no Flamengo, e se casaram no dia 13 de janeiro de 1955.

No início do relacionamento, Zagallo escondeu sua profissão da família de Alcina, devido a má fama que os jogadores tinham na época.

Alcina sempre foi a confidente de Zagallo e soube do corte de Romário, às vésperas da Copa de 98, em primeira mão, dando uma bronca no marido pela decisão.

O casal teve quatro filhos, o primeiro foi Paulo Jorge de Castro Zagallo, nascido em 1958, e seguiu a carreira do pai, sendo treinador de equipes como o Botafogo, Goiás, América-RJ e outros.

Além de Paulo, Zagallo e Alcina tiveram Maria Emilia de Castro Zagallo, Mário César Zagallo e Maria Cristina de Castro Zagallo.

Títulos e honrarias de Zagallo:

Como jogador:

Flamengo:

Campeonato Carioca: 1953, 1954 e 1955

Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1955

Botafogo:

Campeonato Carioca: 1961 e 1962

Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1961

Rio-São Paulo: 1962 e 1964

Seleção Brasileira:

Copa do Mundo FIFA: 1958 e 1962

Taça Oswaldo Cruz: 1958, 1961 e 1962

Taça Bernardo O’Higgins: 1959 e 1961

Taça do Atlântico: 1960

Como treinador:

Flamengo:

Campeonato Carioca: 1972 e 2001

Copa dos Campeões: 2001

Botafogo:

Campeonato Carioca: 1967 e 1968

Campeonato Brasileiro: 1968

Fluminense:

Campeonato Carioca: 1971

Al-Hilal:

Campeonato Saudita: 1979

Seleção Saudita:

Copa da Ásia: 1984

Seleção Brasileira:

Copa do Mundo FIFA: 1970 e 1994 (como auxiliar técnico)

Taça Independência: 1972

Copa Umbro: 1995

Jogos Olímpicos: Medalha de Bronze em 1996

Copa América: 1997 e 2004 (como auxiliar técnico)

Copa das Confederações: 1997 e 2005 (como auxiliar técnico)

Prêmios Individuais:

Melhor Treinador do Mundo da IFFHS em 1997

9º Melhor Treinador de Todos os Tempos da Wold Soccer em 2013

27º Melhor Treinador de Todos os Tempos da FourFourTwo em 2020

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