A data marca no aniversário de nascimento de Agatha Christie, a escritora apontada como uma das pessoas que mais contribuíram para a popularização da literatura no mundo.
Razão pela qual perfis dedicados ao tema e espaços como a logo de um dos buscadores mais usados na Internet, que registra eventos significativos, trazem o lembrete.
Segundo o Guiness Book, Christie é a romancista mais bem-sucedida na história da literatura popular mundial em número total de livros vendidos, uma vez que suas obras, juntas, venderam cerca de quatro bilhões de cópias ao longo dos séculos XX e XXI, cujos números totais só ficam atrás das obras vendidas do dramaturgo e poeta William Shakespeare e da Bíblia.
Segundo a organização Index Translationum, as obras de Agatha Christie já foram traduzidas, em levantamento recente, para mais de 100 idiomas em todo o mundo.
Nascida Agatha Mary Clarissa Miller, em Torquay (região da costa de Devon), em 1890, foi romancista, contista, dramaturga e poetisa.
Destacou-se no subgênero romance policial, tendo ganhado popularmente, em vida, a alcunha de “Rainha/Dama do Crime” (“Queen/Lady of Crime”, no original em inglês).
Durante sua carreira, publicou mais de oitenta livros, alguns sob o pseudônimo de Mary Westmacott.
Seu livro mais vendido, Ten Little Niggers (publicado no Brasil como E Não Sobrou Nenhum, ou O Caso dos Dez Negrinhos, e em Portugal como Convite para a Morte ou As Dez Figuras Negras), de 1939, é também, com cerca de 100 milhões de cópias comercializadas em todo o globo, a obra de romance policial mais vendida da história, além de figurar na lista dos livros mais vendidos de todos os tempos, independentemente do gênero.
Em 1971, foi condecorada pela rainha do Reino Unido, Elizabeth II, com o título de Dama-Comendadora da Ordem do Império Britânico, uma honra que consiste no equivalente feminino ao sir.
No total, escreveu mais de 100 livros.
É constantemente referida por seus emblemáticos personagens, incluindo o detetive belga Hercule Poirot e a idosa detetive amadora Miss, a solteirona, que observando a natureza humana, pôde solucionar os mais obscuros mistérios.
Seu início na literatura se deu com The Mysterious Affair at Styles, em 1916, publicado em 1920 pela editora Bodley Head vendendo cerca de 2 000 cópias, após ser rejeitado por 6 editoras.
Em seguida vieram The Secret Adversary, The Murder on the Links, The Man in the Brown Suit, Poirot Investigates e The Secret of Chimneys.
Mas o sucesso veio em 1926 com a publicação de The Murder of Roger Ackroyd, que vendeu 5 000 cópias.
O livro causou polêmica, pois Agatha contrariou as regras dos romances policiais.
Desaparecimento
Em 3 de dezembro de 1926, seu marido Archie revela que está apaixonado por outra mulher, Nancy Neele, e quer o divórcio.
Então, deixa a esposa, para passar um fim de semana com a amante e alguns amigos em Godalming, Surrey.
Após chegar em casa e não encontrar o marido, Agatha abandonou a casa em Styles por volta das 21h45 daquela noite com uma pequena mala.
Na manhã do dia 4 de dezembro seu carro foi encontrado em um barranco no lago de Silent Pool em Newlands Corner, com os faróis acesos.
Dentro do Morris Cowley verde foram deixados um casaco de pele, a sua mala e uma carteira de motorista vencida.
O desaparecimento da autora se tornou notícia em Surrey quando a polícia local publicou um relatório de pessoas desaparecidas, e passou-se a oferecer 100 libras para quem tivesse qualquer informação sobre a autora.
Aviões, mergulhadores e escoteiros buscavam por Agatha – ao todo a busca teve a ajuda de 15 000 voluntários.
Várias informações foram acrescentadas à história do desaparecimento da autora, no livro The World of Agatha Christie.
Martin Fido diz que na semana de seu desaparecimento Agatha deixou uma carta para Carlo Fisher, sua secretária, pedindo para cancelar uma hospedagem em Yorkshire.
Segundo Martin, a autora escreveu também uma carta ao marido lhe fazendo críticas duras.
Ainda no sábado, antes da descoberta do carro da autora, ela havia escrito uma carta a Campbell Christie, de Londres, dizendo que iria para Yorkshire, mas a carta foi perdida antes que Campbell pudesse lê-la.
Uma nota foi também escrita para o vice-chefe de polícia de Surrey (ainda antes de encontrar-se o carro de Agatha), informando que Archie temia por sua segurança.
Descoberta
Agatha Christie estava desaparecida havia 11 dias, desde que seu carro fora encontrado no lago Silent Pool, e estava sendo procurada por aviões (foi a primeira vez que se usou aviões para buscar alguém desaparecido na Inglaterra), quando a polícia soube que ela estava no Hydropathic Hotel (hoje Old Swan Hotel), em Harrogate.
Agatha chegou lá de táxi no dia 4 de dezembro levando consigo apenas uma mala.
A autora estava hospedada sob o nome de Teresa Neele (o mesmo sobrenome da amante de seu marido), dizendo ser da Cidade do Cabo, e explicando que era uma mãe de luto pela morte de seu filho.
No hotel, Agatha foi vista dançando, jogando bridge, fazendo palavras cruzadas e lendo jornais.
Curiosamente, a autora deixou um anúncio no The Times dizendo que Teresa Neele procurava parentes e amigos da África do Sul; interessante ressaltar que a irmã de Agatha, Madge, morreu em 1923, após voltar do país africano.
A autora foi reconhecida no hotel pelo músico Bob Sanders Tappin, que reivindicou a recompensa de 100 libras.
Sanders disse que se dirigiu à autora como “Mrs. Christie” e que essa respondeu-lhe, mas disse que estava sofrendo de amnésia.
Agatha foi encontrada pela polícia no dia 19 de dezembro.
Várias teorias foram criadas para explicar o falso desaparecimento da autora, algumas pessoas defendem que o escândalo foi um golpe publicitário para aumentar a venda de um dos seus livros (The Murder of Roger Ackroyd lançado semanas antes do desaparecimento, continuava na lista de best-sellers), outras que a intenção da autora era apenas se vingar de Archibald, simulando sua morte para que o marido fosse acusado de assassiná-la, e finalmente há os que dizem que a autora realmente sofreu um acidente de carro e perdeu a memória.
Embora em seus livros autobiográficos não haja quase nenhuma informação sobre o episódio de seu desaparecimento, acredita-se que, em O Retrato, publicado sob o nome de Mary Westmacott, Agatha conta muito da sua história através da personagem Celia, que pensa em suicídio após ser abandonada pelo marido.
O segundo casamento e retorno à literatura
Em 1927 Agatha voltou a escrever, com a publicação de The Big Four, protagonizado por Hercule Poirot. Mesmo após o escândalo de seu desaparecimento, Agatha só se separou de Archibald em 1928, dois anos após o incidente.
No outono do mesmo ano, o arqueólogo britânico Leonard Woolley convidou Agatha para o Oriente Médio, onde estava no comando de escavações em Ur.
No ano seguinte Agatha voltou a Ur, onde conheceu o jovem assistente de Woolley, Max Mallowan (14 anos mais jovem que Agatha), com quem se casou em 1930.
A autora manteve seu nome como Agatha Christie porque assim estava celebrizada entre os seus leitores, mas em sua vida particular era chamada de Mrs. Mallowan.
Com o marido, Agatha viajou por todo o mundo, fazendo escavações e tomando conhecimentos sobre arqueologia, e escreveu um livro sobre a experiência, Come, Tell Me How You Live.
O casamento com Mallowan duraria até a morte da escritora.
Sua única filha, Rosalind casou-se no início da Segunda Guerra Mundial, e em 1943 teve um filho, Mathew Prichard, o único neto de Agatha Christie.
Gravura no túmulo da autora
Em 1934, Agatha Christie alcança o auge de sua carreira, com um de seus livros mais famosos, Murder on the Orient Express, adaptado para o cinema, teatro e TV em incontáveis ocasiões, sendo a mais famosa delas a versão de 1974 do romance, que rendeu um Óscar a Ingrid Bergman, e três prêmios BAFTA (da academia britânica de artes). Só no ano de lançamento do filme, o romance original vendeu 3 milhões de cópias.
Últimos anos
O último livro protagonizado por Hercule Poirot, Curtain (escrito nos anos 40), foi publicado em dezembro de 1975, porque Agatha já não se sentia disposta a escrever.
A autora morreu um mês depois, em 12 de janeiro de 1976, em decorrência de causas naturais (pneumonia) e está sepultada em St Mary Churchyard, Cholsey, Oxfordshire na Inglaterra.
Já o último livro de Miss Marple, Sleeping Murder (também escrito nos anos 40) foi publicado em outubro de 1976.
O marido Max Mallowan morreu em 1978.