Vítima de tragédia de Brumadinho é identificada após seis anos

Corpos de duas pessoas ainda não foram localizados; ex-presidente da mineradora obteve ano passado um habeas corpus e deixou de ser réu
Destruição, na época do deslizamento, a partir da barragem de rejeitos da mineração: anúncio da identificação de segmentos do corpo de Maria de Lurdes foi destacado em postagem nas redes sociais, pela Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum). (Foto: reprodução / Antonio Cruz / Agência Brasil)

A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou nesta sexta-feira (7) que segmentos corpóreos encontrados na região atingida pelo rompimento da barragem da mineradora Vale pertencem à corretora de imóveis Maria de Lurdes da Costa Bueno.

Ela é a 268ª vítima identificada.

Passados mais de seis anos da tragédia, os corpos de duas pessoas que perderam a vida no episódio – Tiago Tadeu Mendes da Silva e Nathália de Oliveira Porto Araújo – ainda estão desaparecidos.

As buscas pelas vítimas são conduzidas pelo Corpo de Bombeiros que prometeu, diversas vezes, manter os trabalhos até a identificação de todos os mortos.

O anúncio da identificação de Maria de Lurdes, que morreu aos 59 anos, foi destacado em postagem realizada nas redes sociais da Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum).

“A luta por justiça, encontro, memória, não repetição e direito dos familiares não podem parar!”, registra o texto.

A publicação traz ainda uma foto de Maria de Lurdes com uma frase do filósofo e poeta Rubem Alves: “Aquilo que o coração ama, fica eterno”.

Moradora de São José do Rio Pardo (SP), Maria de Lurdes estava em Brumadinho a turismo para conhecer o Instituto Inhotim, considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina.

A Pousada Nova Estância, onde ele se hospedava, foi engolida pelos rejeitos.

Também estavam na viagem seu marido, Adriano Ribeiro da Silva, sua enteada, Camila Taliberti, e seu enteado, Luiz Taliberti, que estava também acompanhado de sua mulher Fernanda Damian, grávida de cinco meses.

Todos perderam a vida no episódio.

Em homenagem a Camila e Luiz, amigos e familiares fundaram o Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT).

Sediado em São Paulo e presidido pela mãe dos dois irmãos, Helena Taliberti, a entidade tem como objetivo a defesa dos direitos humanos e atua ao lado da Avabrum na preservação da memória e na cobrança por respostas para a tragédia em Brumadinho.

A barragem integrava um complexo minerário da Vale na cidade de Brumadinho (MG).

O colapso da estrutura no dia 25 de janeiro de 2019 liberou uma avalanche de rejeitos que deixou 270 pessoas soterradas.

A maioria eram trabalhadores da própria mineradora ou de empresas terceirizadas que atuavam na mina.

A Avabrum contabiliza 272 vidas perdidas, considerando os bebês de duas mulheres que estavam grávidas.

O episódio resultou ainda na destruição de comunidades e na degradação ambiental da bacia do Rio Paraopeba.

Seis anos

Até hoje, ninguém foi preso pelo rompimento da barragem.

O processo criminal, inicialmente admitido na Justiça estadual, foi federalizado e atualmente está correndo o prazo para que os réus apresentem a defesa.

Dezesseis pessoas haviam sido denunciadas, entre nomes associados à Vale e, também à Tüv Süd, consultoria alemã que assinou o laudo de estabilidade da barragem.

No entanto, o ex-presidente da mineradora, Fábio Schvartsman, obteve no ano passado um habeas corpus e deixou a condição de réu.

Há duas semanas, no marco dos seis anos da tragédia, a Avabrum coordenou um ato para homenagear os entes queridos e reiterar sua luta contra a impunidade.

No ato, foi inaugurado o Memorial Brumadinho, pensado para ser um espaço de homenagem e de conexão com as vítimas.

A construção foi uma exigência das famílias dos mortos.

Leo Rodrigues — repórter da Agência Brasil; Edição: Sabrina Craide

Leia também