A imagem viralizou e foi repercutida por mais de um perfil, em mais de uma rede social.
Não dezenas ou centenas, mas, milhares de pessoas, em Paris, com os celulares apontados para o Arco do Triunfo, onde se deu a festa com fogos de artifício para a virada para 2024.
Dos 31.536.000 (trinta e um milhões, quinhentos e trinta e seis mil) segundos de um ano inteiro, só se tem aquele! O segundo da virada!
E, afinal, é Paris!
Mas, por tudo isso – ou justamente por isso –, vem o questionamento.
O que chamou a atenção de muita gente que resolveu fazer a postagem, discutir a imagem ou comentar sobre ela: no lugar de celebrar, festejar um evento de tal modo esperado, em especial, pela cultura ocidental cosmopolita – o único de âmbito realmente mundial –, as pessoas estavam mais interessadas em registrar o espetáculo.
“O que você acha disso?”, comentou postagem do perfil do Jornal Nota, dedicado, em particular, à literatura, mas, também espaço para discussão de cultura e comportamento.
“Você deixa os eventos de lado para registrá-los?”, enfatiza.
“Você conhece alguém que faz isso?”, acrescenta.
Não se trata de fazer julgamentos ou criticar quem quer que seja, por qualquer que seja o motivo.
Mas, vale a reflexão: você está ali para viver o evento ou para registrá-lo? Para se deixar levar pela emoção (aí entra pular, abraçar, confraternizar, bater palmas) ou evitar de fazer tudo isso, para não comprometer a qualidade da gravação?
Que o celular já está no domínio de nossas vidas é mais do que fato – e que estamos, na mesma proporção, escravizados por ele.
Porém, esse registro mostra que a dependência passou dos limites do cotidiano, das dependências “funcionais”, para as da esfera emocional.
Para ser mais claro: o aparelhinho já dita nosso modo de vida; está agora começando a ditar nosso modo de sentir e viver nossas memórias.
A imagem não deixa dúvidas.