Duas mulheres, mãe e filha, vêm chamando a atenção de moradores do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Segundo quem mora ou trabalha no bairro, elas estão “morando” há cerca de 3 meses em uma mesa do McDonald’s da Rua Ataulfo de Paiva, esquina com a Rua Carlos Góis.
Ao lado de cinco malas, elas passam o dia no local, chegam a consumir no estabelecimento e só saem de madrugada, quando a loja fecha.
O caso foi revelado pela CBN.
À TV Globo, elas afirmaram que estão procurando apartamento, que não entendem a curiosidade que despertaram e pedem que as pessoas não se intrometam na vida delas.
“Eu estou achando tudo ridículo, não consigo entender como isso virou essa bola de neve”, disse a mãe.
O G1 ouviu moradores e comerciantes da região, e todos confirmaram que elas passam o dia no interior da loja e dormem do lado de fora, esperando pela reabertura.
As mulheres, de 64 e 31 anos, explicaram que estão em busca de um apartamento para alugar no bairro e mencionaram que recebem apoio financeiro do pai da mais jovem, que mora na Inglaterra.
“Se fosse uma pessoa de pele morena, com pouca roupa, com pouca mala, não teria despertado curiosidade”, afirmou a mais nova.
O g1 entrou em contato com o McDonald‘s sobre a situação, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Recusaram abrigo da prefeitura
As mulheres chegaram a recusar uma oferta de abrigo na segunda-feira (22).
Assistentes sociais do Programa Leblon Presente foram acionados e foram ao local oferecer vagas para as duas em um dos abrigos da Prefeitura do Rio.
O G1 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio, que informou que uma equipe de abordagem especializada entrou em contato com as mulheres nos dias 10 e 16 de março.
O auxílio foi negado pelas duas.
Quem trabalha na região afirma que os funcionários dos estabelecimentos da área também já ofereceram ajuda para as mulheres, que não foi aceita.
As duas são gaúchas e vivem no Rio de Janeiro há 8 anos.
Mãe vivia com grupo de surfistas
Em entrevista à TV Globo, a mulher mais velha contou que por muitos anos viveu com um grupo de surfistas e só largou a o estilo de vida para cuidar da filha recém-nascida.
“Um certo dia eu disse: ‘vou parar e vou engravidar da minha filha que eu quero muito’. Desde criança eu a queria”, contou a mulher mais velha.
Ela afirmou que é casada há 34 anos e que o marido vive na Inglaterra — ele também teria se assustado com a repercussão da permanência delas na lanchonete. Elas afirmaram que não estão há 3 meses no local, mas não quiseram dizer o tempo que permanecem ali.
De acordo com a 14ª DP (Leblon), o estabelecimento comercial não registrou ocorrência contra as mulheres, e não há comunicação de crime relacionado à permanência delas no local.
A mulher mais jovem afirmou que considera que a inveja gerou a curiosidade sobre elas e confirmou que as duas estão procurando apartamento.
Ela elogiou os funcionários da lanchonete e afirmou que os considera amigos.
A mais jovem disse que atualmente estuda para concursos públicos, mas, no momento, não tem edital disponível para o cargo que deseja.
Condenações e calotes
De acordo com a Polícia Civil, mãe e filha possuem 3 registros de ocorrência por calotes em hotéis em Copacabana.
As queixas aconteceram em 2018, 2019 e 2021.
Em todos os casos, elas foram expulsas por falta de pagamento das diárias utilizadas.
Elas também foram denunciadas pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, em 2018, por injúria racial e condenadas a 1 ano em regime aberto.
A pena foi substituída por prestação de serviços comunitários.
A filha também alugou um imóvel mobiliado em Porto Alegre.
Entre 2014 e 2018, a mãe e ela moraram em um apartamento na Avenida Doutor Nilo Peçanha, no bairro Boa Vista.
Em contato com a TV Globo, a locatária afirmou que as duas causaram problemas durante o período com vizinhos e não cumpriram o acordo financeiro firmado entre elas pela moradia.
A proprietária disse que a dupla só pagou os primeiros 6 meses de aluguel e resistia em negociar qualquer tipo de acordo para quitar a dívida pendente.
O processo, inicialmente, foi aberto por conta da falta de pagamento de agosto a novembro de 2015 e se desdobrou em uma ação de despejo, determinada em fevereiro de 2017 pela Justiça do Rio Grande do Sul.
Sobre os processos sobre despejo e dívidas, as duas negaram a existência de débitos.
A mais jovem pediu que não se intrometam na vida delas.
“Hoje em dia, todo mundo pega o nome de todo mundo, coloca no Google e você vai ter lá o que for assim”.
“Agora, eu não devo satisfação de nada”.
“Não fui despejada”.
“Se eu tive um acordo com o proprietário, eu tive um acordo com o proprietário. Se eu quis que fosse assim, foi decisão nossa”, afirmou.
Larissa Schmidt, Cristina Boeckel, Raoni Alves, Rafael Avelino — G1/Rio e TV Globo