“Retórica” da gestão de JHC é alvo de blog: “bilhões no discurso, tragédia no chão”

Blog do jornalista e historiador Geraldo de Magela cita ainda: “a distância entre a gestão JHC e a realidade de Maceió”
Imagem que ilustra material em blog (da JHC (e) e o vice, Rodrigo Cunha, durante a cerimônia de posse em janeiro, e a análise do jornalista e historiador: “enquanto a retórica se projeta em números grandiosos e slogans de marketing, a cidade real afunda — literal e simbolicamente”. (Foto: reprodução / Assessoria)

O espaço reproduz texto publicado no portal 082Notícias, do historiador e jornalista Geraldo de Magela Fidelis.

Segue o texto, na íntegra:

O discurso de posse do prefeito João Henrique Caldas (JHC), em janeiro, repetiu o tom otimista e autopromocional que tem caracterizado sua trajetória política.

Apresentando Maceió como uma “vitrine de recursos naturais para o Brasil” e sua administração como exemplo de eficiência, JHC alardeou um crescimento de 1.300% nos investimentos públicos e prometeu uma cidade transformada pela sua “capacidade de gestão”.

Mas, enquanto a retórica se projeta em números grandiosos e slogans de marketing, a cidade real afunda — literal e simbolicamente — sob o peso de promessas não cumpridas, infraestrutura precária e abandono das áreas mais vulneráveis.

  1. Bilhões anunciados, obras estruturantes invisíveis

JHC afirmou que a Prefeitura já licitou mais de R$ 2 bilhões em obras e que o investimento previsto para 2025 ultrapassará R$ 1,5 bilhão.

Mas até agora nenhuma obra de infraestrutura urbana de grande impacto foi apresentada à população como resultado concreto desses recursos.

Dois eventos extraordinários garantiram à Prefeitura quase R$ 3 bilhões:

  • R$ 1,7 bilhão do acordo com a Braskem, após o colapso causado pela mineração que destruiu cinco bairros da capital;
  • Uma parcela significativa da concessão da Casal, em que a iniciativa privada passou a operar os sistemas de água e esgoto da Região Metropolitana.

Mesmo com essa montanha de recursos inéditos, velhos problemas urbanos seguem intocados.

A falta de drenagem, a ausência de saneamento básico e o abandono estrutural de comunidades inteiras contradizem o discurso de “transformação”.

  1. Inundações, lama e abandono: o retrato da cidade real

A cada temporada de chuvas, Maceió naufraga — e com ela, seus moradores mais pobres. Benedito Bentes, Clima Bom, Grota do Rafael, Vale do Reginaldo, orla lagunar, Bom Parto e Flexais são exemplos de bairros onde enchentes, deslizamentos, ruas intransitáveis e falta de esgoto tratado continuam parte do cotidiano.

A propaganda de que “a gestão vai aonde as pessoas mais precisam” é desmentida pelos relatos diários de moradores que convivem com lixo acumulado, pavimentações malfeitas, limpeza pública irregular e nenhuma política de habitação digna.

O Ministério Público de Contas (MPC/AL) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE/AL) já questionaram formalmente a falta de transparência na aplicação dos recursos da Braskem, cobrando da Prefeitura esclarecimentos sobre os contratos e o destino das verbas.

  1. Números sem impacto, gestão sem direção social

É verdade que JHC conseguiu aumentar os investimentos públicos em relação à Receita Corrente Líquida — chegando perto dos 20%.

No entanto, investir mais não é sinônimo de investir bem.

Sem detalhamento sobre os contratos, locais beneficiados ou impacto social das obras, o discurso se esvazia.

Boa parte dos recursos anunciados é usada em intervenções estéticas e de urbanização superficial, como praças e asfaltamentos localizados, que garantem visibilidade rápida para redes sociais, mas não enfrentam os problemas estruturais da cidade.

Nos cinco anos de gestão, nenhum indicador social relevante apresentou melhora consistente.

Pelo contrário: a educação pública vive uma tragédia, com escolas sucateadas, resultados abaixo da média nacional e evasão crescente.

Enquanto isso, não há uma política séria de valorização docente, infraestrutura escolar ou combate à desigualdade educacional.

  1. Um discurso preso ao palanque e à autopromoção

Frases como “se antes Maceió tinha um prefeito, agora tem dois” ou “nós vamos investir ainda mais em 2025” reforçam o caráter eleitoreiro e marqueteiro do discurso de posse.

O que deveria ser uma apresentação de planos de governo se converte em um espetáculo de autopromoção, calcado em dados soltos e promessas genéricas.

Não há autocrítica, nem reconhecimento de falhas.

A administração ignora ou relativiza o sofrimento das populações atingidas pela omissão do poder público, preferindo investir em imagem pessoal que em planejamento de longo prazo.

Resumo da ópera: dinheiro não falta — falta prioridade com o povo

Maceió está, sim, entre as capitais com maior volume de recursos extraordinários — mas isso ainda não resultou em desenvolvimento urbano justo, inclusivo ou sustentável. A gestão de JHC deve à sociedade uma prestação de contas clara, técnica e socialmente relevante sobre onde, como e com que resultados estão sendo aplicados os bilhões recebidos.

Enquanto isso não for feito, o que se vê é uma cidade que continua desigual, alagada e adoecida, onde a política pública permanece uma miragem, especialmente para quem vive nas grotas, nos Flexais, no Bom Parto, no Vale do Reginaldo, e em tantas outras periferias invisíveis para os outdoors da prefeitura.

Leia também