A reforma tributária aprovada pelo Senado permite taxar os combustíveis fósseis, como gasolina, óleo diesel e gás de cozinha, com o “imposto do pecado”. Mas o governo afasta a ideia e afirma que deve “manter a tributação atual”.
Chamado de “imposto do pecado”, o imposto seletivo tem o objetivo de taxar produtos considerados prejudiciais ao meio ambiente e à saúde, como cigarro e bebidas alcóolicas, por exemplo.
E consta do texto aprovado no Senado na última na quarta-feira (08).
Durante a tramitação do texto na Casa, o relator Eduardo Braga (MDB-AM) permitiu que a extração de petróleo e a venda de combustíveis fósseis sejam taxados por esse imposto. O texto retornou à Câmara dos Deputados para análise.
Ao G1 (responsável pela reportagem), o Ministério da Fazenda afirmou que, embora a reforma tributária permita a taxação extra dos combustíveis, “em princípio a ideia é não utilizar o IS [Imposto Seletivo]”.
No lugar do “imposto do pecado”, o governo pretende usar o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) –criados pela reforma para substituir os tributos atuais. A pasta disse que “a ideia é calibrar as alíquotas por litro, de forma a manter a tributação atual”.
“Ou seja, não se pretende aumentar a tributação dos combustíveis na Reforma Tributária. E, portanto, não se espera um aumento de custos dos combustíveis e, muito menos, o aumento de custo de logística por conta da Reforma Tributária”, afirmou o ministério.
Impacto duplo
Caso o imposto seletivo seja aplicado sobre os combustíveis, a reforma tributária pode impactar duas vezes o preço dos derivados, segundo especialistas consultados pelo G1.
O texto aprovado pelo Senado incluiu tanto a extração de petróleo quanto os combustíveis fósseis no rol de atividades e produtos que serão taxados pelo imposto seletivo.
No entanto, como os combustíveis são produzidos a partir do refino do petróleo bruto, o imposto deve incidir duas vezes na cadeia de produção: na extração do petróleo e depois no insumo refinado em gasolina e diesel, por exemplo.
“De fato, vai ser algo que vai onerar. A meu ver, vai aumentar a carga tributária e muito provavelmente vai ser repassado ao consumidor”, afirmou o advogado tributarista Marcos Campanatti, do escritório Souza Okawa.
O relatório de Braga estabelece uma tributação de até 1% do valor de mercado do petróleo. Caso esse trecho passe pela Câmara e seja sancionado, será necessária uma lei complementar para definir a alíquota e o valor de referência.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, o imposto sobre a extração de petróleo deve ser repassado ao consumidor.
“Como estamos tratando de um insumo e de um preço que está colocado na tributação, você vai imediatamente transferir isso para o consumidor, vai impactar a cadeia toda até chegar no consumidor”, afirmou.
Competitividade do Brasil
Ardenghy afirma ainda que o imposto deve aumentar os custos do setor em até US$ 9,1 bilhões no período de 27 anos –a vida útil dos campos de produção. A estimativa do IBP considera o preço do barril de petróleo em US$ 84.
O custo do imposto de 1% seria de:
US$ 3 bilhões em projetos de pequeno porte;
US$ 5,2 bilhões em projetos de médio porte;
US$ 9,1 bilhões em projetos de grande porte.
Para o presidente do IBP, a previsão de taxar o setor na reforma tributária pode afetar a atração de investimentos e já deve ser levada em consideração pelas petroleiras no próximo leilão de petróleo da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em dezembro.
“As empresas internacionais vão pensar duas vezes em vir para o Brasil fazer investimentos de óleo e gás quando a gente coloca esse tipo de tributação sobre a produção ou a exploração de petróleo”, afirmou Ardenghy.
Esse imposto de até 1% será cobrado independentemente da destinação, ou seja, também pode aumentar o preço do produto exportado. “Isso é uma preocupação muito importante porque estaremos exportando tributo, que é uma coisa que vai na contramão do que o mundo inteiro faz”, disse Campanatti.
G1