Em julho do ano passado, a pensadora e ativista Angela Davis esteve no Brasil para lançar seu livro Abolicionismo. Feminismo. Já., coescrito com três professoras dos EUA.
O lançamento oficial aconteceu em Salvador, no Conjunto Penal Feminino, onde ela autografou a obra para um grupo de 22 mulheres encarceradas.
Ao mesmo tempo, as mulheres no presídio lançaram um livro de poemas, Firminas em fuga, tendo Davis como principal convidada.
“Meu interesse pelo abolicionismo penal e as questões carcerárias vem da época em que eu mesma estive encarcerada”, disse Davis, de 80 anos, professora emérita da Universidade da Califórnia, às detentas em Salvador.
No início dos anos 1970, ela foi acusada de participação em um assassinato na Califórnia e ficou mais de um ano presa.
Por fim, foi inocentada.
Nos últimos anos, tornou-se uma apaixonada defensora da extinção dos presídios.
No novo livro, ela examina como o feminismo pode contribuir para essa luta.
“A melhor maneira de lidar com as prisões é abolindo as prisões”, declarou.
“E a melhor maneira de abolir as prisões é construindo uma sociedade que não necessite de prisões”, disse Davis às mulheres presas.
Em reportagem de Emily Almeida e Tiago Coelho na edição deste mês da Piauí (responsável pela reportagem), a ativista explica que o abolicionismo penal, que começou denunciando a violência da polícia e ensinando métodos de autodefesa (como ligar a câmera do celular durante uma abordagem policial), precisa adquirir uma dimensão internacionalista.
“Tem acontecido um enorme movimento desde o Black Lives Matter e o assassinato de George Floyd pela polícia”, afirmou.
“Há campanhas para desfinanciar a polícia, o que aponta para a necessidade de começarmos a abraçar alternativas à segurança pública”, diz.
“Mas existe uma centralização ideológica das políticas de punição, encarceramento e segurança pública que é própria do capitalismo global.”
Davis defende que sejam abolidas a própria ideia de punição e a prática do encarceramento. No lugar da criminalização penal, propõe a responsabilização: fortalecer o senso comunitário de uma sociedade e promover o apoio, a reintegração e a reabilitação de quem transgride a lei.
Revista Piauí