A Polícia Federal (PF) apura denúncia feita por um cliente da XP Investimentos que relatou ter aportado R$ 10 milhões em papéis indicados pela corretora e perdeu metade do valor.
A suspeita é de crime contra o sistema financeiro nacional, cuja pena chega a 2 anos e 6 meses de reclusão, mais multa.
Esse é um dos grandes casos de prejuízos com a corretora e escritórios a ela ligados revelados pelo Metrópoles.
A investigação mira a suposta prática de “churning”.
Do inglês, significa “sacudir”.
O termo é usado para definir agentes do mercado financeiro que induzem investidores a erro para obter vantagem sobre eles.
É como se estivessem “sacudindo” clientes para lhes arrancar maiores taxas de corretagem.
A denúncia foi registrada no Ministério Público Federal (MPF), em São Paulo, em novembro de 2023.
No mesmo mês, o órgão enviou o caso para análise da Polícia Federal.
Ele está registrado como notícia de fato, procedimento preliminar de investigação, aberto de maneira protocolar quando a denúncia é recebida.
Assessor prometeu proteção contra queda de até 8%
Marcio Santos relata que em 2016 foi orientado por seu gerente bancário a virar cliente da XP.
Ele passou a ser atendido por um assessor de um escritório ligado à XP.
Entre aquele ano e 2020, o investidor aportou R$10.176.346,97. A ele foram oferecidas operações estruturadas, conhecidas como COEs, com lastro em papéis de grandes empresas nacionais.
Em mensagens a Santos, o assessor prometeu iniciar com aportes em papéis da Vale e disse que, mesmo que caísse 8%, o investimento sairia no “zero a zero”. Nesses termos, Santos topou. A todo o tempo, mesmo diante de queda desses papéis, o que preocupou Santos, o assessor respondia que estaria tudo bem e repetia que seu patrimônio estava protegido.
“Um ponto importante é que estamos bem protegidos para quedas. Teremos uma postura mais participativa na alta e protegida em caso de quedas fazendo mais Operações Estruturadas com Proteção”, disse, em uma mensagem.
“Estamos mais conservadores”
Em uma troca de mensagens, Santos indagou: “Estou ficando desesperado com essa queda toda! Eu já perdi R$ 2 milhões”.
O assessor respondeu: Caaaaalma, Doutor!!! Pensemos %. Seguimos na volatilidade, mas está positivo”.
Em outra mensagem, ele alerta que sua carteira já havia sido reduzida em 25%.
O corretor diz: “Tenha um pouco de paciência que logo retomamos, bem antes de a bolsa voltar pra onde estava inclusive”.
E ainda completa: “Estamos mais conservadores. Não estamos agressivos não”.
Segundo Santos, o que fez a taxa de corretagem chegar aos R$ 2,1 milhões foi o fato de que o assessor efetuou operações alavancadas.
O termo é usado para definir uma espécie de empréstimo dado pela corretora para que o cliente possa investir valores mais altos do que possui e, consequentemente, potencializar seu retorno financeiro.
Somente após perceber que a perda havia atingido um patamar milionário, o assessor sugeriu pôr o dinheiro em uma renda fixa para tentar recuperá-lo aos poucos.
Era tarde demais.
O que diz a XP
Procurada pelo Metrópoles, a XP Investimentos afirmou, por meio de nota, que “segue rigorosamente a regulação e preza pela absoluta transparência nas condições e prazos dos seus produtos de investimentos”.
“Por isso, está alinhada aos mais altos padrões de compliance e de aplicação de suitability. A empresa não comenta casos específicos que tramitam na Justiça”, diz a XP.
Luiz Vassallo