O deputado federal por Alagoas Paulão (PT) foi o único integrante da bancada federal de Alagoas a se alinhar à cruzada de âmbito nacional em favor do religioso que atua em pastoral na capital paulista, Padre Julio Lancelotti.
“Padre Júlio Lancellotti é um exemplo de dedicação e amor ao próximo”, escreveu o deputado federal por Alagoas em postagem publicada num dos perfis de redes sociais.
Na postagem, Paulão traz a imagem do religioso católico que está à frente da Pastoral do Povo de Rua, na capital paulista e atua, em particular, na chamada Cracolândia, conjunto de quadras numa região de comércio popular de São Paulo onde se concentram os dependentes químicos – sobretudo, os dependentes dessa droga.
Padre Julio está no centro de uma polêmica, ao se tornar alvo de possível investigação, mesmo sem haver elementos que o enquadrem nessa condição.
No final de 2022, o vereador Rubinho Nunes (União), um dos representantes da direita na Câmara paulistana, protocolou pedido de abertura de CPI para supostamente investigar ONGs que atuam com as populações em situação de rua na cidade, em especial, as da Cracolândia.
Mas, em entrevistas mais recentes, o vereador citou que a CPI teria como alvo o religioso, que se notabilizou na luta contra a aporofobia (aversão a pobres e à pobreza).
Padre Julio, como ficou conhecido, tem perfil com milhares de seguidores em redes sociais, faz campanhas como distribuição de cobertores, no inverno rigoroso da cidade, e faz uma atuação severa contra a chamada arquitetura hostil, como a colocação de paralelepípedos sob viadutos ou qualquer outro espaço público que possa se converter em local de dormida para pessoas em situação e rua.
Fora as atividades diárias, como distribuição de refeições, preparadas numa cozinha comunitária.
Com isso, angariou a hostilidade em vários segmentos: de pequenos empresários dessas regiões a lideranças políticas.
Também nas redes sociais, de políticos e artistas a influenciadores ligados a movimentos progressistas e à esquerda, vários setores se engajaram numa cruzada em defesa do religioso.
Da comparação com os ensinamentos cristãos às charges ironizando os críticos do religioso, passando pela interpretação acerca do motivo para a direita contestar seu trabalho, a mobilização trouxe a questão para o noticiário de âmbito nacional.
O foco das reportagens apontava a contradição no objetivo de o vereador paulistano querer investigar Padre Júlio: ele não possui nenhuma ONG, atuando por meio de uma Pastoral da Arquidiocese local, e, portanto, não recebe verbas públicas, mantendo o trabalho graças apenas a doações.
E citaram o que pode ser a razão para a proposta de Rubinho Nunes: Padre Julio Lancelotti não esconde sua simpatia por setores progressistas e de esquerda, aparecendo constantemente em imagens com lideranças que vão do presidente Lula ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL–SP), entre os potenciais candidatos à Prefeitura de São Paulo este ano, o que está em melhor posição, segundo pesquisas.
E houve críticas até mesmo a personalidades públicas de projeção na mídia que também exercem sacerdócio e emissoras católicas, que não se manifestaram em defesa de Padre Julio.
A mobilização gerou desgaste à proposta: noticiosos avaliam que a ideia de CPI pode complicar a situação do prefeito Ricardo Nunes (União), que pleiteia reeleição; notícia do portal “Brasil 247” mostra que levantamento na rede social X (antigo Twitter) aponta que mais de 90% das manifestações acerca do tema são em defesa do Padre Julio e quatro vereadores que tinham assinado a proposta de criação da CPI declinaram de manter seu apoio: Thammy Miranda (PL), Sydney Cruz (Solidariedade), Sandra Tadeu (União Brasil) e Xexéu Tripoli (PSDB).
Outro argumento despertado pelo debate é que a CPI pode ter o mesmo resultado da do MST, no Congresso Nacional: proposta por bolsonaristas, com o objetivo de desgastar o movimento, acabou surtindo efeito inverso, de mostrar a importância, por exemplo da agricultura familiar praticada pelo movimento em prover alimento para a mesa da população – enquanto o agronegócio visa a exportação – deu espaço para seus dirigentes desautorizarem parlamentares da direita e propiciou denúncias contra os próprios autores da CPI.
Ao defender o religioso paulistano, o deputado federal por Alagoas – e virtual candidato ao Senado em 2026 – elogiou seu trabalho:
“Sua incansável luta pelos direitos humanos e assistência aos mais vulneráveis merece nosso apoio e reconhecimento, não questionamentos sem fundamento”, acrescentou o parlamentar, criticando a proposta de investigá-lo o Padre Julio Lancelotti.
“Todo o nosso apoio ao Padre Júlio Lancellotti!”, finalizou Paulão.