Os eleitores alagoanos – nós

Projeção de que mais um nome local assuma cargo decisivo na política brasileira – e olhe que o Estado representa pouco mais de 1% de eleitorado nacional
Dois parlamentares de Alagoas: depois de tantos outras passagens criticadas, até no “panis et circensis” Arthur Lira conseguiu botar a mídia nacional para falar de política – e mal; sucessor pode ser de novo daqui. (Foto: reprodução)

Matéria assinada pela colunista e apresentadora Basília Rodrigues, responsável pela cobertura política em Brasília, pela CNN, traz que o líder do MDB na Câmara dos Deputados, Isnaldo Bulhões de Barros Júnior, confirmou que o partido deverá ter nome disputando a presidência da Mesa diretora.

Segundo a reportagem, o “emedebista afirma que o bloco buscará consenso em torno de um único nome”, que “o MDB vai trabalhar para ter candidato, vai colocar nome e estará na mesa para discutir com os demais partidos”.

E concluiu: “o resultado sairá de uma ampla discussão”.

Porém, a despeito de fala tão conciliatória de Bulhões, ao conceder a entrevista, a jornalista acrescenta um elemento crucial: “tradicionalmente, o MDB lança o nome de seus líderes”.

E para o desfecho, menciona: “atualmente, o MDB é da base aliada do governo e ocupa três ministérios na Esplanada (Planejamento, Transportes e Cidades)”.

A escolha do titular de pelo menos um deles, o ex-governador Renan Filho, se deu justamente pelo desempenho da legenda em conseguir vagas na Câmara, trunfo para duas das principais munições – legais! Frise-se – do período eleitoral: tempo de televisão e distribuição de um terço do fundo eleitoral (calculado a partir do percentual de votos válidos).

Por isso a importância da casa entre as duas que formam o Congresso Nacional.

Estatísticas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) referentes à última eleição (2022) mostram que a parcela de Alagoas no eleitorado brasileiro é de 1,48%.

Para se ter uma ideia: a segunda cidade paulista, Campinas, tem um eleitorado que, no âmbito nacional, está a menos de um ponto percentual do de toda Alagoas (0,5%).

E por que Campinas?

Porque não tem cabimento comparar com a capital, São Paulo – que, com seus 9,3 milhões de eleitores é o quarto colégio eleitoral do país: atrás do estado de São Paulo (34,6 milhões), do de Minas Gerais (16,2 milhões), do Rio de Janeiro (12,8 milhões) e da Bahia (11,2 milhões).

Ou seja, há mais paulistanos votantes que eleitores de todos os demais estados brasileiros depois desses.

Pela mesma aritmética, são estados com mais representantes na Câmara dos Deputados – no Senado, todos têm os mesmos três representantes.

Ainda assim, eis que lá se projeta mais uma vez que a pequena Alagoas (territorial e eleitoralmente) vem de novo a interferir nos destinos políticos do país – com seu poder político inversamente proporcional à dimensão dos critérios anteriores.

E a projetar também mais responsabilidade sobre seus eleitores.

Afinal, destaques na política – e críticas de eleitores de outros estados – não têm faltado aos alagoanos.

Tanto quanto os R$ 8 milhões destinados de dinheiro público de Maceió para a Beija-Flor, no primeiro dia de desfiles de escolas de samba no Rio de Janeiro, chamou atenção da mídia nacional a presença do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) – mais do que o prefeito da capital – e, em especial, o cumprimento prestado a Anisio Abrão David, duas décadas atrás, preso pelo menos seis vezes por práticas criminosas ao comandar o jogo do bicho carioca.

Veja uma dessas repercussões no vídeo abaixo.

Antecessor enquanto alvo de desgaste político na mídia, o senador Renan Calheiros (MDB) virou merecedor de elogios, pelo relatório da CPI da Covid.

Enquanto Lira, com o poder angariado de reter os pedidos de impeachment contra o pior presidente brasileiro desde a redemocratização – garantindo-lhe a chave do cofre do orçamento secreto –, angariou, também, boa parte da ojeriza da opinião pública.

Opinião pública – é bom deixar claro.

Porque de eleitorado, o eleitor a quem ele deve satisfações – nem que seja quando subir em trios e palanques para pedir votos – é ao alagoano.

Entre as críticas em comentários de perfis de redes sociais que registraram a presença de Lira na passarela do samba do Rio de Janeiro estavam inevitáveis conclamações a nós, eleitores alagoanos, para não votarmos em políticos como o atual presidente da Mesa da Câmara dos Deputados.

Sempre costumo frisar: o mandato para o político, ao fim do governo Bolsonaro, seguramente mais poderoso no país (visto ter o próprio presidente “na mão”) foi dado por uma parte menor de um eleitorado que não chega a 1,5% do total brasileiro.

Vale a ressalva de que foi mantido por decisão do STJ, que não dá seguimento a processo que pode lhe tirar o cargo.

Mas, que o mandato, originalmente, saiu das urnas, saiu.

Defeito da democracia? Virtude?

Questionamento sujeito a discussão tanto quanto dizer que fomos nós que o elegemos.

Não fui eu – assim como não votei em Bolsonaro – e, muito provavelmente o leitor deste espaço – sim, porque os eleitores deles certamente lerão outros.

Contudo, é da democracia: eu não votei, mas, se o candidato que recebeu mais votos foi o outro, aceitemos (sem quebrar sedes de Poderes e nem pedir ou muito menos tramar golpe) e esperemos até a próxima eleição para tentar sorte melhor, enquanto os chamamos de “nosso” – presidente, prefeito etc.; uma vez que vira o dirigente de quem votou e de quem não votou.

Da máxima atribuída dos clássicos gregos a Lincoln e Churchill (de que a democracia não é perfeita, porém…) prefiro a mais contundente: “é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”.

Sabemos que o eleitor escolhe tanto melhor quanto maior é seu grau de esclarecimento – e aqui não há nenhuma alusão ao espectro ideológico (direita, esquerda ou centro).

Mas, é sempre bom lembrar: comportamentos como se pendurar em caminhão, cantar Hino para pneu e tentar contato extraterrestre com celular mostra bem de que lado está a parcela do eleitor que “nos deu” Bolsonaro.

Porém, o espectador que faz sua escolha para a atrações televisivas como o BBB deveria saber que tem muito mais responsabilidade sobre os políticos que parecem tão distantes do que sobre o experimento social que lhe soa mais próximo – por poder votar no paredão.

Ou, para soar mais próximo: dos jurados a quem cabe dar os votos para escolher as escolas de samba campeãs.

A escolha no programa de TV fará as próximas celebridades para campanhas de publicidade e as atrações de camarotes do próximo carnaval.

Já a escolha da hora do voto pode garantir – ou não – as políticas públicas, que são muito mais importantes, pois têm a ver com educação, saúde e demais direitos nossos de cada cidadania.

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