A propósito da estreia da edição 24 do Big Brother Brasil, sugiro a reflexão da jornalista Gabriela Prioli sobre a concepção por trás – ou para além – do programa.
Como ela disse, “para resumir, bem resumido”, um experimento sobre a natureza humana.
Ou seja, tem menos a ver com entretenimento que com psicologia, antropologia e filosofia – embora a maioria veja só o primeiro…
Para dar uma ideia (da análise): vai a Hobbes e Rousseau, com suas concepções distintas – de que o homem é mau e bom, por natureza, respectivamente.
Passa pelos idealizadores do modelo e, felizmente, sem esquecer ao que se deve o nome – a exemplo de outras referências literárias que menciona.
Como se sabe: o Grande Irmão era a entidade-personagem do livro de Arthur Blair (que o escreveu sob o pseudônimo de George Orwell): “1984”.
Por que do nome?
Era quando Orwell imaginava que estaríamos vivendo na sociedade hoje definida pelo neologismo de adjetivo de “distópica” (tipo: algo sem sentido ou absurdo, mesmo – desde que, mais presente que imaginamos).
Em resumo: era uma sociedade sob vigilância total, absoluta; o que incluía vigiar até pensamento.
O autor quis fazer uma crítica ao regime soviético, em particular, e totalitários, em geral – daí uma das características do Grande Irmão (mas, essa eu deixo em suspenso, para não dar spoiler e “convidar” o leitor a ler o livro).
Outra característica – essa, eu adianto: a onipresença do Grande Irmão – embora, nunca apareça!
Mas, afinal, o ano em que está o mundo que Orwell descreveu com uma precisão profética é passado – sem desmerecer; só para reforçar, porque, de resto, as demais circunstâncias estão todas aqui.
Para não me alongar – e, de novo convidar o leitor a dar uma olhada (desta vez, no comentário da jornalista) –, devo frisar que, a propósito, aliás do próprio BBB (não sei por qual lá das edições), me atentei para a relação nada ingênua entre os experimentos sociais e a o poder de geração de pautas de entretenimento.
A começar pelas novelas e séries, que nada mais são do que uma grande fofoca pública.
Passando pelos demais grandes eventos, que atendem a um dos princípios da governabilidade proposto lá nos idos do Império Romano (do “panis et circensis” – do pão e circo; “é só os prover e o povo manterá [sem governo] em paz”).
E chegando às pegadinhas de programas dominicais.
Delas, uma de que me recordo, pelo tanto de risível – e, ao mesmo tempo, nada risível, enquanto experimento – que trazia e, ao mesmo tempo, contundência social.
Ainda dos tempos do Faustão, a concepção era: um suposto agente da lei traz alguém sob custódia, mas, tem que delegá-la a um terceiro, sob um também suposto chamado urgente.
E para dar o fecho no raciocínio, após alguns instantes, o custodiado – o suposto fora-da-lei – pede à pessoa para deixá-la ir, fazer vista grossa a uma fuga, deixá-la fugir.
A pegadinha (experimento) transcorre a partir daí: do momento que essa pessoa recebe a delegação de assumir a dita custódia.
Pode não ter sido essa a sequência da captação das situações, mas, a da edição tornou a coisa emblemática: no primeiro caso, a pessoa incorpora a autoridade, mas, sem maiores exacerbações.
A segunda, o faz de modo até caricato: ante o pedido de “relaxar a guarda”, recebe uma senhora reprimenda – ou seja, a pessoa se viu a própria autoridade, com o poder sobre outrem, de dar ou tolher sua liberdade.
E, ao final, a pessoa que recebe a delegação mostra um traço terrível de muitas autoridades: sem sequer esperar o pedido de corrupção, se oferece para liberar o custodiado, indagando quanto ele pagaria para isso.
Na tela da tevê, uma grande piada – se fosse verdade, sob os olhos da lei, corrupção pura e simples, e nem um pouco passiva.