MP vai investigar partos em Santana do Ipanema e combater violência obstétrica

Procedimento visa averiguar se há número além do admissível de procedimento recomendado apenas em último caso
Investigação visa apurar se Hospital Regional Dr. Clodolfo Rodrigues tem feito com muita regularidade o procedimento de episiotomia, um corte cirúrgico para alargar o canal do parto; OMS recomenda que procedimento deve ser a última opção na hora do parto. (Foto: reprodução)

Coibir a violência obstétrica, garantir a humanização do parto nas maternidades públicas e privadas, além de proteger a saúde e a vida de parturientes são as garantias de direitos que levaram à instauração de um Procedimento Administrativo pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL).

A medida foi adotada pela 2ª promotoria de Justiça de Santana do Ipanema para acompanhar e fiscalizar o Hospital Regional Dr. Clodolfo Rodrigues, no município, com o intuito de averiguar se na unidade está sendo adotado o procedimento de episiotomia que é um corte cirúrgico feito no períneo para alargar o canal do parto.

Iniciativas do Ministério Público Federal (MPF) para combater práticas irregulares nos hospitais alagoanos, que têm violado os direitos de gestantes e parturientes, levou a 26ª Promotoria de Justiça da Capital a encaminhar expediente ao Núcleo de Defesa da Saúde Pública (Nudesap).

A partir desse processo, o caso chegou à unidade do MP de Alagoas na cidade sertaneja.

De acordo com a instituição, a informação é a de que há um histórico de número elevadíssimo da prática de episiotomia em maternidades públicas de Alagoas, sem a existência de protocolos clínicos, ou consentimento das parturientes que, pelos riscos, devem assinar um termo de consentimento informado com a informação sendo compartilhada com o acompanhante.

Pelos protocolos da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a episiotomia deve ser a última opção na hora do parto.

Com o intuito de erradicar a prática ilícita nas unidades de saúde de Alagoas, o MPF chegou a emitir Recomendações ao Hospital Carvalho Beltrão Serviços de Saúde LTDA e ao Hospital Regional Dr. Clodolfo Rodrigues, para que antes do ato cirúrgico orientassem as gestantes sobre os perigos causados pela episiotomia e que, além disso, o profissional médico assuma por escrito, de maneira detalhada os motivos pelos quais adotou o procedimento.

Para se ter noção do número exato de mulheres submetidas à episiotomia foi solicitado à direção dos dois informações e dados atualizados sobre o número de episiotomias realizadas nos hospitais nos anos de 2020 e 2021, por cada médico, mas nenhum teria se manifestado sobre o acatamento.

Não tendo tido êxito com suas Recomendações, o MPF encaminhou cópia dos autos para o MPE, pedindo que a 2ª Promotoria de Justiça de Santana do Ipanema se posicione e adote as providências cabíveis visando eliminar possíveis irregularidades no Hospital Regional Dr. Clodolfo Rodrigues.

Em seus Considerando, o promotor de Justiça Alex Almeida ressaltou o projeto “Boa Hora”, do Ministério Público cujo objetivo trata da prevenção à violência obstétrica.

“Esse tipo de procedimento pode causar lesões sérias, razão pela qual temos de agir para evitar abusos e maus-tratos contra a gestante na hora do parto”.

“Se os dirigentes de uma unidade de saúde têm conhecimento da prática em suas unidades, geram protocolos internos para que a episiotomia seja realizada então, devem ser responsabilizados por quaisquer consequências que venham vitimar as parturientes”, explica o promotor.

O corte cirúrgico pode causar complicações que vão da dor perineal, ao aumento de riscos de infecções, disfunção do assoalho pélvico, dispaurenia que pode gerar problemas psicológicos, hemorragias e fístulas retovaginal.

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