Termos como “megadesastre” e “crime” ou expressões como “ir às últimas consequências” – acrescentando que esse movimento seria nos âmbitos “institucionais e legais”, além da já mais conhecida “maior crime ambiental urbano do mundo”.
As palavras constam não de uma manifestação de moradores ou comerciantes dos bairros afetados pela Braskem.
Ou de um desabafo em redes sociais, entrevistas ou conversas.
Estão numa nota de “Fato relevante”, publicada pelo governo do Estado, nesta sexta-feira (1º).
Logo após a expressão mais conhecida, acerca da dimensão do desastre, o documento ainda acrescenta “provocado pela petroquímica, que vem sendo acompanhado pelo Grupo de Trabalho de Combate ao Crime da Braskem”.
E o objetivo da divulgação é claro – está no próprio documento: as negociações para a venda de parte da mineradora para o fundo árabe ADNOC.
Operações dessa magnitude, a exemplo do mercado como um todo, são sujeitas a muitas variáveis.
A principal é o desempenho de bens ou produtos que se quer vender ou comprar – no caso parte da Braskem.
Mas, “intercorrências” na operação das companhias podem influenciar o negócio – e muito.
Isso se não vierem a comprometê-lo – no popular, melar o negócio.
Veja, a seguir, a íntegra do texto publicado pelo governo.
O Governo de Alagoas alerta o mercado e as instituições nacionais sobre o preocupante agravamento dos desastres ambientais causados pela Braskem na capital do nosso Estado, em meio a tratativas sobre a venda de parte da empresa para o fundo árabe ADNOC. Há previsão de formação de crateras em bairros centrais a qualquer momento.
O Estado reitera sua posição irredutível em defesa dos interesses de Alagoas, dos municípios da região metropolitana de Maceió e de cerca de 150 mil vítimas do maior crime ambiental urbano do mundo, provocado pela petroquímica, que vem sendo acompanhado pelo Grupo de Trabalho de Combate ao Crime da Braskem.
As consequências desse megadesastre estão longe de uma solução, como se vê com o colapso das minas de Salgema. O Governo de Alagoas já demonstrou a existência de um passivo em torno de R$ 30 bilhões da petroquímica, conforme estudo recém-concluído.
Qual a razão por trás deste “esquecimento”, que soa como uma manobra proposital, uma possibilidade de logro em curso, lesando o Estado e nossa gente?
Este FATO RELEVANTE serve para, mais uma vez, advertir as autoridades federais competentes da nossa preocupação e firme intenção de ir às últimas consequências institucionais e legais para fazer prevalecer os direitos dos credores alagoanos, supracitados, que sorrateiramente se tenta ignorar.
Há uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), aprovada pelo Senado Federal, fruto dessa vontade de Alagoas e das vítimas de passar a limpo esse e outros fatos estranhos ocorridos nesses últimos cinco anos pós-desastre.
Não nos opomos à venda da empresa, mas, é preciso que, antes, o seu passivo em Alagoas seja equacionado. E, para isso, estamos abertos à negociação. Porém, é preciso estabelecer um modelo de acordo adequado entre o tamanho da realidade do desastre, e não como tem sido a recorrente postura da Braskem, de ofertar valores vis.
A reportagem procurou ouvir a companhia sobre este, e segue aberta a manifestações.