Conforme noticiado pelo Olhar Digital (responsável por esta reportagem), o Telescópio Espacial Hubble está completando 35 anos nesta quarta-feira (24).
Desde o lançamento em 1990, o equipamento tem sido responsável por algumas das imagens mais icônicas do Universo.
Mas, com o avanço da tecnologia e a chegada de novos telescópios, é natural a curiosidade: o lendário Hubble continua em forma e necessário?
Segundo especialistas consultados pelo site Space.com, a resposta é sim. Mesmo com mais de três décadas de operação, o Hubble continua sendo uma ferramenta científica valiosa.
Cientistas afirmam que ele ainda entrega dados de altíssima qualidade e cumpre um papel único na astronomia.
James Webb não é o sucessor do Hubble
O astrônomo Kurt Retherford, do Southwest Research Institute (SwRI), afirmou que o interesse da comunidade científica pelo Hubble permanece altíssimo.
Ele explica que o número de pedidos para usar o telescópio supera em várias vezes o tempo disponível de observação.
Ou seja, só as melhores propostas são aprovadas.
Segundo Retherford, que usou recentemente o observatório espacial para estudar Io, uma das luas de Júpiter, conhecida por uma intensa atividade vulcânica, o Hubble continua sendo um “cavalo de batalha” da ciência, contribuindo para descobertas e publicações relevantes.
Mas, como ele se compara ao Telescópio Espacial James Webb (JWST), considerado seu “sucessor”?
Ao custo de US$10 bilhões, Webb representa o que há de mais moderno em observação espacial.
Mesmo assim, ele não substitui o Hubble – na verdade, os dois se complementam.
Isso porque eles enxergam o Universo de formas diferentes.
O Hubble capta luz visível e ultravioleta, que são comprimentos de onda mais curtos.
Já o JWST é especializado em luz infravermelha, que revela fenômenos escondidos por poeira ou que emitem pouca luz.
Veterano tem sensibilidade incomparável
A pesquisadora Mélina Poulain, da Universidade de Oulu, destaca essa complementaridade.
Para ela, o Hubble ainda tem um papel crucial, especialmente ao observar luz azul e ultravioleta (algo raro hoje em dia).
Além disso, sua resolução espacial e campo de visão continuam sendo trunfos importantes.
“O campo de visão e a resolução espacial do Hubble permitem um estudo muito detalhado de muitas fontes astronômicas diferentes, de planetas a galáxias, incluindo aquelas com objetos de brilho superficial muito baixo, como galáxias anãs”, disse Poulain, que participou de um estudo recente com o Hubble que analisou cerca de 80 galáxias anãs.
Durante a pesquisa, o telescópio ajudou a detectar, pela primeira vez, aglomerados de estrelas colidindo no interior dessas pequenas galáxias.
Um feito que só foi possível graças à sensibilidade do equipamento.
Outro ponto a favor do Hubble é sua familiaridade.
Cientistas já conhecem bem seus instrumentos, sabem o que esperar e como tratar os dados.
Isso facilita a análise e aumenta a eficiência dos estudos.
Por outro lado, o James Webb ainda está no início de sua vida útil e requer mais tempo de adaptação.
Telescópios em solo e no espaço se unem para explorar o Universo
O futuro do Hubble, segundo os especialistas, passa por parcerias com outros telescópios.
A ideia é combinar dados para ter uma visão mais completa do Universo.
E essa colaboração pode incluir não só equipamentos no espaço, mas também observatórios na Terra.
Um exemplo é o Observatório Vera C. Rubin, que está em fase final de construção no Chile.
Ele começará em breve a mapear o céu todas as noites por dez anos, detectando mudanças e novos objetos.
Quando isso acontecer, Hubble e JWST poderão investigar esses achados com mais profundidade.
Retherford explica que, enquanto Rubin examinará grandes áreas do céu em busca de novidades, Hubble e Webb serão usados para focar nesses objetos e analisá-los em detalhe.
Assim, cada um cumpre seu papel e fortalece o trabalho dos demais.
Mesmo com a chegada do Telescópio Espacial Nancy Grace Roman em 2027, o Hubble continuará tendo relevância.
O Roman será mais um parceiro do James Webb, voltado para ampliar a busca por energia escura e exoplanetas, mas sem concorrer diretamente com o Hubble.
Ao longo dos anos, o aniversariante do dia poderá atuar junto a todos esses novos instrumentos, fornecendo uma visão em luz ultravioleta e visível, que nenhum outro telescópio consegue combinar tão bem.
Isso o torna insubstituível – ao menos por enquanto.
No entanto, o maior desafio do Hubble não é técnico, mas financeiro.
Com cortes nos orçamentos da NASA, manter equipamentos como ele, o JWST e outras missões científicas se tornou uma batalha constante. Isso pode ameaçar o uso pleno desses telescópios.
Retherford alerta que a falta de recursos pode limitar o aproveitamento de todo o potencial do Hubble e seus “irmãos” mais modernos.
Além disso, compromete os planos para seu sucessor definitivo: o Observatório de Mundos Habitáveis, ainda sem data definida para lançamento.
Enquanto esse novo projeto não sai do papel, o Hubble segue operando.
E os cientistas torcem para que ele continue firme pelo menos até 2030, quando deve ocorrer uma nova onda de missões espaciais focadas em Júpiter e suas luas, como a Europa Clipper, da NASA, e a sonda JUICE, da Agência Espacial Europeia (ESA).
Para muitos astrônomos, como Poulain e Retherford, o Hubble ainda tem muito a oferecer.
Mesmo que novas tecnologias surjam, sua contribuição científica, confiabilidade e versatilidade o tornam essencial em qualquer estratégia de observação astronômica.
Ao completar 35 anos, o Hubble mostra que idade pode ser sinônimo de experiência.
E, com os cuidados certos e os apoios necessários, ele pode muito bem chegar aos 40 anos ainda como um dos pilares da astronomia moderna.
Flavia Correia — Olhar Digital