O antigo nome da capital de Uganda, na África, é, possivelmente, mais conhecido por filmes.
E curiosamente, nem mesmo o mais tradicional, produzido um ano após o episódio que a fez conhecida no mundo é o mais mencionado hoje.
No lugar do estrelado pelo saudoso Carles Bronson (e dirigido pelo professor de cinema de George Lucas – e que dirigiu o melhor da franquia – “O Império Contra-ataca”: Irving Kershner), o que vem nos buscadores é o dirigido pelo brasileiro José Padilha.
Experimente “pedir” ao buscador por “Resgate em Entebbe” (“Raid on Entebbe”) – só virá “Sete dias em Entebbe”.
Seja qual for, a história é para lá de épica – e, sobretudo, real.
A sinopse não deixa dúvidas: no fim de junho de 1976, um Boeing da Air France que seguia de Tel-Aviv com destino a Paris foi sequestrado e, após peregrinar por vários países, acabou levado para a nação africana, então governada pelo ditador Idi Amin – também levado às telas por Forrest Whitaker, mas, que se notabilizou para a história pela crueldade e pela crença de que comeria até carne humana.
Lá, os cerca de cem reféns foram mantidos até serem resgatados numa ação militar mirabolante e espetacular – vale frisar que os adjetivos, aqui, não têm conotação positiva.
Filme e inspiração épicos tanto quanto outro longa-metragem retratando uma ação do mesmo tipo – e igualmente advindo de história real: “A hora mais escura” (“Zero dark third” – dirigido por Kathryn Bigelow).
Estrelado pelo também saudoso James Galdolfini (“Sopranos”), conta a história de uma jovem analista dos quadros da CIA no Paquistão envolvida na captura de Osama Bin Laden – obcecada, dizem os críticos.
Mas, este texto não é sobre cinema.
Lembram da menção que fiz, neste mesmo espaço, outro dia, do livro das memórias de governo do primeiro presidente negro dos EUA?
Peço que, por favor, não se irritem por eventual spoiler – a publicação tem 716 páginas (fora as de créditos e notas); ou seja, tem muito o que se ler.
Pois bem: é óbvio que um dos episódios mais aguardados por quem o lê é como se deu a operação contra Bin Laden, cujo planejamento foi entregue ao vice-almirante William McRaven – descrito por Barack Obama, como alguém que lembra Tom Hanks.
O militar comandou mais de mil operações dos Seals (os comandos de forças especiais) e numa delas, despencou mais de mil metros, até o paraquedas se abrir.
Ainda assim, sofreu fratura na coluna, entre outras lesões.
Porém, é nada menos que um dos autores dos manuais dos Seals, soldados cultuados pelas missões que os colocam quase como super-homens e mulheres.
Na pós-graduação, McRaven estudou o episódio de Entebbe, que envolveu outras forças de elite temidas e respeitadas mundialmente – na mesma medida: os comandos israelenses.
Mais que os militares, era a “CIA deles”, o Mossad o mais temido ainda – e que se notabilizou por localizar, na Argentina, em 1960, o nazista Adolf Eichman.
Após confirmar a identidade, acompanhar a rotina e montar tocais, os agentes israelenses, abordaram e aprisionaram Eichman, que foi levado para Israel, preso, julgado, condenado e executado pelos crimes da Segunda Guerra.
Tudo por fora dos meios legais: extradição, acionamento ao governo local – tecnicamente um sequestro transcontinental.
A operação em Uganda só não foi 100% bem-sucedida porque três reféns se assustaram ante a invasão do edifício da torre do aeroporto e foram mortos, assim como o comandante da incursão, o tenente-coronel Jonathan…
Jonathan Netanyahu.
Sim, o irmão mais velho do atual primeiro-ministro israelense.
É onde desfechamos o cinema na política.
Há, no mínimo, uma grande contradição entre a precisão dessas operações e as que resultaram em mais de 30 mil vidas palestinas ceifadas.
E aqui, frisamos outro elemento: “contradição” – com o máximo respeito aos palestinos.
A maioria de mulheres e crianças – e como citou o presidente Lula: não de soldados.
Mortes são mortes, mas, soldados são soldados – ainda que recrutados da população.
Aonde se quer chegar?
Ora, se quisessem achar os terroristas do Hamas, os tão bem treinados militares israelenses já teriam achado.
O que Israel está perpetrando, como se vê por esse viés histórico, também (como se ainda carecesse), é um extermínio, sim.
É a “erradicação” do povo palestino.
E só há um nome para se perpetrar isso a um povo inteiro: genocídio.