O Rio Grande do Sul já registra cerca de 10 mil animais resgatados durante as enchentes no estado que já deixaram 126 pessoas mortas até esta sexta-feira (10).
O salvamento dos animais – de pequeno ou grande porte – é resultado de uma ação que une famílias afetadas, voluntários, especialistas, entidades da sociedade civil e poder público.
O caso do cavalo Caramelo, ganhou atenção após um registro do Globocop, exibido na GloboNews.
A ação mobilizou diversas forças de segurança, até que o Corpo de Bombeiros de SP e veterinários conseguiram chegar ao local, em Canoas, para salvar o equino.
Resgatado na quinta-feira (09), o animal já apresenta quadro de saúde estável.
Em Porto Alegre, a prefeitura calcula que 4,8 mil animais foram resgatados de áreas alagadas, incluindo bichos encontrados sem seus tutores.
Os resgates são descentralizados, ou seja, ocorrem em diversos pontos do estado e a diversas mãos. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), por exemplo, enviou uma equipe para dar apoio ao Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad), uma organização não governamental que está atuando no RS.
Essa força-tarefa conseguiu resgatar 500 animais, principalmente cães e gatos. No entanto, não apenas pets foram salvos.
O grupo também resgatou animais silvestres, como aves e até guaxinins.
O grupo já passou por Eldorado do Sul, São Sebastião do Caí, Canoas e Esteio – localidades em que há acesso terrestre.
“É fundamental reconhecer o empenho de todos os agentes envolvidos nos resgates, que formam uma rede integrada e organizada.
Estas ações são essenciais para o salvamento das vidas dos animais”, diz a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann.
Equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e voluntários também estão socorrendo os animais.
Um dos servidores em ação é Paulo Wagner, analista ambiental, médico veterinário e chefe do Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Porto Alegre.
“Nós andarmos duas, três, cinco, sete quadras de barco tentando chegar até a casa das pessoas”.
“Nós fizemos uma pequena parte, uma rede imensa de voluntários trabalhando, as Forças Armadas, as redes de segurança, os bombeiros, voluntários”.
“Gigantesco o processo”, relata Wagner.
O especialista conta que muitos dos bichos resgatados estão machucados.
“Ninguém fica para trás, ninguém será deixado para trás; alguns animais são muito difíceis”.
“Felinos domésticos, os gatos, eles fogem, eles não querem, é muito complicado”, diz.
O que é feito após os resgates
Após o resgate, a primeira etapa é o transporte, em segurança, para abrigos ou unidades de acolhimento.
A segunda etapa é uma triagem veterinária, para verificar as condições de saúde do animal.
Os animais que estão em bom estado de saúde, mas sem o tutor identificado, são direcionados para abrigos públicos ou espaços do Grad.
Caso estejam com hipotermia ou lesões, os bichos são encaminhados para a clínica veterinária mais próxima.
Além disso, há pessoas que levam os animais consigo, para os abrigos onde a presença de pets é permitida.
Também há abrigos privados montados por pessoas e entidades de defesa da causa animal.
A assessora especial de políticas públicas para animais da Sema, Amanda Munari, explica o que deve fazer quem ainda não encontrou seu pet.
O tutor precisa entrar em contato com a Defesa Civil do município e se deslocar até os abrigos da cidade para a identificação do animal.
O governo do estado planeja a criação de uma lista de abrigos que estão recebendo os animais socorridos.
“Pretendemos integrar o quanto antes o trabalho que envolve a Sema com os salvamentos das forças de segurança”.
“Criando esse canal de comunicação entre as frentes, o processo de triagem e identificação dos animais será mais eficaz, acelerando o retorno dos animais aos seus tutores”, projeta Amanda.
O governo do estado ainda conta com o apoio do Conselho Estadual de Medicina Veterinária, do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no resgate e acolhimento de animais.
Além disso, uma força-tarefa do Mato Grosso do Sul deve desembarcar no RS com alimentos, cobertores e materiais de primeiros socorros para atender bichos de pequeno e grande porte.
Acolhimento na Orla do Guaíba
Um dos pontos que recebeu centenas de pessoas resgatadas a barco, na Orla do Guaíba, também é um local de atendimento de animais.
Voluntários, que atuam desde o dia 2 de maio, agora trabalham para erguer um hospital de campanha próximo à Usina do Gasômetro.
Uma das coordenadoras do espaço, Cássia Hennig, explica que cerca de 3 mil animais das mais variadas espécies já foram atendidos.
“Hoje, por exemplo, tinha um pato, dois jacarés. É tudo quanto é tipo de animal. Cavalo, boi… Já chegou galinha, periquito, papagaio”, conta.
O atendimento já começa nos barcos, com a triagem dos bichos.
Os voluntários carregam os animais até tendas, onde eles são pesados e etiquetados.
Depois, eles vão para atendimento médico, que indica o destino de cada um dos pets ou animais silvestres socorridos.
Hospital veterinário de campanha
Um hospital de campanha destinado aos animais foi montado em Porto Alegre em razão das cheias.
A iniciativa é uma colaboração de UFRGS, Unisinos, Exército, Brigada Militar, Hospital Vila Nova e Secretaria Municipal de Administração Pública de Porto Alegre.
Voluntários atendem animais que precisam de cirurgia, após o encaminhamento feito por abrigos.
As cirurgias são agendadas, e o transporte é de responsabilidade dos abrigos.
Caso o animal não esteja sob tutela ou o acolhimento não tenha estrutura de pós-operatório, o bichinho será encaminhado para um centro de referência indicado pelo município.
Resgates em Porto Alegre
A Capital soma cerca de 700 animais em abrigos emergenciais, convivendo com seus tutores.
Outros 500 pets estão na Unidade de Saúde Animal Victoria (USAV), na Lomba do Pinheiro, na Zona Leste. Já um abrigo na Zona Sul acolhe 100 bichinhos.
A prefeitura ainda afirma que 3,5 mil animais foram recebidos em pontos de resgate como a Usina do Gasômetro e na Zona Norte.
“Os voluntários nos entregaram muitos pets resgatados de áreas de inundação sem os tutores”.
“Além da USAV, estamos com dois abrigos temporários já lotados e iremos abrir mais um”, relata a coordenadora do Gabinete da Causa Animal, Fabiana Ribeiro.
A maior parte dos resgatados é composta por cães, na proporção de cinco cachorros para um gato encontrado.
Todos os animais nos abrigos recebem alimentação e são examinados – caso necessitem atendimento especializado, são encaminhados para serviços veterinários.
Gustavo Chagas — G1/RS