Os militares da Coreia do Sul condenaram o seu vizinho norte-coreano nesta sexta-feira (05), depois de Pyongyang ter disparado tiros de artilharia que caíram dentro de uma zona tampão marítima – faixa que separa as duas regiões geográficas inimigas – que há muito é um ponto de conflito entre os dois países.
A Coreia do Norte disparou mais de 200 tiros em duas horas na costa oeste, perto das ilhas Baengnyeong e Yeonpyeong, na Coreia do Sul, de acordo com o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul (JCS).
A artilharia caiu ao norte da Linha Limite Norte (NLL), uma fronteira de fato disputada e estabelecida pelas ONU, ao final da Guerra da Coreia em 1953.
As munições não causaram danos a civis ou militares, acrescentou o JCS, classificando o incidente como um “ato provocativo que ameaça a paz e aumenta a tensão na Península Coreana”.
Em resposta, os militares da Coreia do Sul realizaram seu próprio exercício de tiro marítimo na tarde de sexta-feira (05), com os residentes de Yeonpyeong ordenados a evacuar para abrigos próximos durante esse período e “abster-se de fazer atividades ao ar livre”, de acordo com uma mensagem do site do governo, e um residente local que disseram à CNN que receberam a mesma mensagem por texto.
Yeonpyeong, uma pequena ilha que mede apenas 5 quilômetros quadrados, abriga mais de 2.100 pessoas, de acordo com o site do escritório local.
A ilha de Baengnyeong, com cerca de 18 milhas quadradas, tem mais de 4.900 residentes.
Resposta norte-coreana
A imprensa estatal norte-coreana disse que os disparos de artilharia desta sexta-feira representam uma medida natural contra “gângsteres” que integram as Forças Armadas da Coreia do Sul.
Ainda segundo o regime de Kim Jong Un, “se os inimigos cometem atos que podem ser vistos como provocação sob pretexto de ação contrária, o exército vai mostrar uma contraofensiva a níveis sem precedentes”.
Histórico de disparos
Não é inédito que a Coreia do Norte atire bombas na zona tampão marítima, mas tais atos aumentam as tensões.
A Coreia do Norte retomou o disparo de artilharia dentro da zona tampão depois de cancelar um acordo militar intercoreano em novembro passado, disse o JCS. Vários tiros também foram disparados na mesma área no final de 2022.
O acordo militar foi assinado em 2018 como parte dos esforços com os Estados Unidos para conter a ameaça de guerra na Península Coreana e alargar a zona tampão entre as duas Coreias.
Mas as relações deterioraram-se desde então, com Seul recuando no acordo e ambos os lados intensificando exercícios militares e testes de armas.
Os militares sul-coreanos estão agora trabalhando com os EUA para rastrear movimentos relacionados e tomarão “ações correspondentes à provocação da Coreia do Norte”, disse o JCS na sexta-feira.
“Não é incomum que a Coreia do Norte dispare artilharia no Mar Ocidental durante os seus exercícios de inverno”, disse Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul.
“A diferença este ano é que as duas Coreias recuaram recentemente num acordo militar de criação de confiança e Kim Jong Un rejeitou publicamente a reconciliação e a unificação com o Sul.”
No domingo, a agência de notícias estatal norte-coreana KCNA informou que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, disse que o estado não buscará mais a reconciliação e a reunificação com a Coreia do Sul.
Kim disse que as relações intercoreanas se tornaram “uma relação entre dois países hostis e dois beligerantes em guerra”, de acordo com o relatório da KCNA. Ele teria acrescentado que se os EUA e a Coreia do Sul tentarem um confronto militar com o Norte, a sua “dissuasão da guerra nuclear não hesitará em tomar medidas sérias”.
Gawon BaeJessie YeungBrad Lendonda CNN/Seul, Coreia do Sul