Copom sobe taxa de juros para 13,25%, mantendo série de altas — medida já era esperada

Na 1ª reunião chefiada por Galípolo, novo presidente do BC, Comitê ainda sinalizou novas altas nos próximos meses
Foto oficial (tradicional, após cada reunião): na primeira sob a chefia de Gabriel Galípolo, novo presidente do BC (indicado pelo presidente Lula), Comitê ainda sinalizou novas altas nos próximos meses, em razão do crescimento da inflação. Expectativa do mercado é de que a Selic supere 15% ao ano em meados de 2025, maior nível em quase 20 anos. (Foto: reprodução / Raphael Ribeiro / Banco Central)

O Banco Central elevou nesta quarta-feira (30) em um ponto percentual a taxa básica de juros da economia, aumentando a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano.

A decisão foi unânime, ou seja, os 9 diretores votaram nesse sentido.

Com a decisão, se mantém a série de altas da taxa de juros na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) chefiada pelo novo presidente do BC, Gabriel Galípolo – que foi indicado por Lula para a função.

A elevação da Selic para 13,25% ao ano já era esperada por grande parte do mercado financeiro, depois de uma indicação do próprio Banco Central — feita em dezembro do ano passado.

Como a inflação está crescendo no país, o Copom prevê na próxima reunião uma nova alta na Selic.

“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, escreveu o Copom.

O processo de alta deve continuar nos próximos meses, ainda a depender do comportamento da inflação.

“Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, completou o Copom na ata da reunião.

A projeção é de novos aumentos nos próximos meses, com taxa superando 15% ao ano em meados de 2025, maior nível em quase 20 anos.

A reunião desta quarta do Copom também foi a primeira em que os diretores indicados pelo presidente Lula foram maioria no colegiado, ou seja, eles foram responsáveis diretamente pela decisão tomada.

Com a autonomia operacional do BC aprovada pelo Congresso Nacional, e válida desde 2021, os diretores da instituição passaram a ter mandato fixo.

Até o fim do ano passado, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, assim como a maioria da diretoria, era composta por indicados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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Lula e o Partido dos Trabalhadores

Campos Neto e a diretoria anterior do BC, indicada por Bolsonaro, foram alvo de ataque constante não somente do presidente Lula, mas também da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, por subir a taxa básica de juros em um patamar considerado excessivo.

A crítica era de que isso frearia demais a economia, com impacto nos empregos e na renda.

No fim do ano passado, Lula baixou o tom.

Ele publicou um vídeo, ao lado de ministros e de Galípolo defendendo a estabilidade econômica no país e o combate à inflação.

E, também, fez acenos ao mercado e prometeu que “jamais haverá interferência” na gestão do futuro chefe da autoridade monetária.

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Mas a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, manteve o tom crítico. Após a última decisão do Copom, em dezembro, que elevou os juros para 12,25% ao ano, ela classificou a decisão como “irresponsável, insana e desastrosa”.

“Não faz sentido nem seria eficaz para evitar alta da inflação, que não é de demanda”.

“Nem para melhorar a situação fiscal, muito pelo contrário”.

“Esse 1 ponto a mais vai custar cerca de R$ 50 bilhões na dívida pública”.

“E não faz sentido para um país que precisa crescer e continuar gerando empregos”, avaliou Hoffmann, por meio de rede social, naquele momento.

Segundo informou em dezembro o ex-presidente do BC, Campos Neto, a opinião dos diretores mais recentes da instituição – incluindo seu sucessor, Gabriel Galípolo, teve “peso cada vez maior” nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), incluindo a de dezembro.

Pressão inflacionária

A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.

Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, pode baixar os juros.

Se estão acima, tende a manter ou subir a Selic.

A partir de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% e será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.

Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.

Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.

Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro semestre de 2026.

Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 5,5% (com estouro da meta), 4,22%, 3,90% e em 3,73%.

Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.

No ano passado, a inflação ficou acima do teto do sistema de metas ao somar 4,83%.

Com isso, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, teve de escrever uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos.

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Nos últimos meses, efeitos climáticos, como secas, que impactaram, por alguns meses, os preços dos alimentos e, também, da energia elétrica — levando ao acionamento das bandeiras tarifárias para reduzir o consumo.

Outro fator que influenciou a inflação foi o dólar alto, relacionado com o cenário externo (atuação de Donald Trump no governo) e dúvidas do mercado financeiro sobre as contas públicas, ou seja, sobre a capacidade de o governo brasileiro de conter a alta do endividamento.

Além disso, o forte ritmo da atividade econômica, que tem surpreendido analistas nos últimos anos e levado o desemprego às mínimas históricas, também tem atuado para pressionar para cima a inflação — principalmente no setor de serviços.

Thiago Resende, TV Globo — Brasília

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