A sede da ONU em Genebra fechará suas portas de forma temporária por falta de dinheiro devido a atrasos nos pagamentos das contribuições que governos precisam fazer para a entidade. A medida começa a valer a partir do dia 20 de dezembro, com o prédio sem receber funcionários até o dia 7 de janeiro de 2024.
A decisão, anunciada em uma circular entre funcionários, revela a dimensão da crise que abala a instituição, já criticada por seu imobilismo diante das guerras em Gaza, Ucrânia, Iêmen e tantos outros lugares.
Com vários escritórios ao redor do mundo, a sede de Genebra é o centro nevrálgico de todo o trabalho humanitário e de direitos humanos, enquanto as decisões políticas e o secretariado ficam em Nova York.
Os funcionários serão obrigados a trabalhar de casa, repetindo os modelos da pandemia da covid-19. A entidade, porém, afirma que suas operações continuarão intactas.
De fato, medidas para economizar energia começaram a ser adotadas a partir de outubro e foram justificadas como “ações para garantir a continuidade de nossas a
De fato, medidas para economizar energia começaram a ser adotadas a partir de outubro e foram justificadas como “ações para garantir a continuidade de nossas atividades obrigatórias de apoio à paz, aos direitos e ao bem-estar”.
Ou seja, para garantir que houvesse dinheiro para os programas pelo mundo, a burocracia teria de ser repensada.
“Em resposta a um déficit orçamentário na ONU em Genebra, resultante dos altos preços da energia e agravado pelo impacto da atual crise de liquidez, estamos atualmente intensificando nossos esforços de conservação de energia”, foi anunciado na época.
Desde 2 de outubro, foram adotadas medidas que incluíam o desligamento das escadas rolantes e a
Desde 2 de outubro, foram adotadas medidas que incluíam o desligamento das escadas rolantes e a redução da iluminação externa. Nesta semana, um cartaz colocado ao lado de uma das escadas rolantes avisava a embaixadores e ministros que o desligamento ocorria “por restrições orçamentárias”. “Pedimos desculpas pelo inconveniente”, completava.
Apesar da necessidade de mudar a matriz energética do mundo, a ONU decidiu fechar todas as estações de recarga de carros elétricos no estacionamento, até segunda ordem.
A entidade ainda anunciou que iria adiar a decisão de ligar o aquecimento do prédio. Também foi decidido que o máximo de temperatura seria de 20,5°C.
Nesta semana, numa das salas, uma placa avisava aos embaixadores que a temperatura estaria mais baixa, em razão do racionamento de gastos.
Os funcionários também foram convidados a ajudar na estratégia de economia de energia. As medidas incluíam recomendações para utilizar a iluminação natural sempre que possível, desligar luzes, computadores e outros aparelhos eletrônicos ao sair dos escritórios e usar escadas sempre que possível.
Atrasos, buraco orçamentário e projetos anulados
Nada disso é uma surpresa para os governos.
O UOL (responsável por esta reportagem) apurou que, no início de outubro, em Nova York, as autoridades da administração das Nações Unidas disseram aos delegados que a deterioração da situação de liquidez do orçamento regular da organização poderia persistir até 2024 se as taxas de cobrança de contribuições não pagas pelos governos não aumentassem.
Catherine Pollard, subsecretária-geral de Estratégia de Gestão, Política e Conformidade, disse que a taxa de cobrança defasada levou o secretário-geral a impor restrições temporárias de contratação este ano.
As cotas não pagas aumentaram de US$ 1,2 bilhão no final de setembro de 2022 para US$ 1,3 bilhão em 30 de setembro de 2023, “indicando uma tendência preocupante” — 56 Estados-membros não tinham pagado integralmente suas contribuições ao orçamento ordinário em 30 de setembro de 2023”.
Os Estados Unidos eram responsáveis pela maior parte das cotas do orçamento ordinário não pagas, devendo US$ 930 milhões em 30 de setembro de 2023, em comparação com US$ 915 milhões em 30 de setembro de 2022. A China veio em seguida, devendo US$ 246 milhões no final de setembro. Em 2022, ela não tinha qualquer dívida com a ONU.
Também foram registradas dificuldades com as Operações de Manutenção da Paz. De acordo com a ONU, o total de pagamentos e créditos nos últimos quatro anos fiscais variou de US$ 2,6 bilhões a US$ 3,7 bilhões, resultando em contribuições não pagas, como uma porcentagem das avaliações, de 63% a 87%.
“A menos que essa tendência seja revertida pelos Estados-membros que fazem pagamentos integrais e pontuais, os atuais problemas de liquidez enfrentados pelas operações de manutenção da paz continuarão e afetarão o reembolso dos países contribuintes de tropas e policiais”, completou.
Jamil Chade – Colunista do UOL