Vijay Prashad é historiador, editor e jornalista indiano.
Escritor e correspondente-chefe da Globetrotter, editor da LeftWord Books e diretor do Tricontinental: Institute for Social Research.
No texto a seguir, publicado no portal Brasil 247, Vijay Prashad é taxativo: “a ExxonMobil quer iniciar uma guerra na América do Sul”.
A petrolífera com sede nos EUA, é a detentora dos campos de maior extensão na bacia de exploração oceânica do litoral do mar do Caribe, de frente para a costa da Guiana – em particular na parcela que corresponde ao prolongamento, para o mar do território reclamado pela Venezuela.
Segue texto de Vijay Prashad:
Em 3 de dezembro de 2023, grande número de eleitores registrado na Venezuela votou em um referendo sobre a região de Essequibo, disputada com a vizinha Guiana. Quase todos que votaram responderam ‘sim’ às cinco perguntas. Essas perguntas pediram ao povo venezuelano que afirmasse a soberania de seu país sobre Essequibo. “Hoje”, disse o presidente venezuelano Nicolás Maduro, “não há vencedores ou perdedores”.
O único vencedor, segundo ele, é a soberania da Venezuela.
O principal perdedor, disse Maduro, é a ExxonMobil.
Em 2022, a ExxonMobil teve um lucro de US$ 55,7 bilhões, tornando-a uma das empresas de petróleo mais ricas e poderosas do mundo.
Empresas como a ExxonMobil exercem um poder desproporcional sobre a economia mundial e sobre países que têm reservas de petróleo.
Ela possui tentáculos ao redor do mundo, da Malásia à Argentina. Em seu livro “Private Empire: ExxonMobil e o Poder Americano” (2012), Steve Coll descreve como a empresa é um “estado corporativo dentro do estado americano”.
Líderes da ExxonMobil sempre tiveram uma relação íntima com o governo dos EUA: Lee “Iron Ass” Raymond (CEO de 1993 a 2005) era um amigo pessoal próximo do vice-presidente dos EUA Dick Cheney e ajudou a moldar a política governamental dos EUA sobre mudanças climáticas; Rex Tillerson (sucessor de Raymond em 2006) deixou a empresa em 2017 para se tornar o secretário de Estado dos EUA sob o presidente Donald Trump.
Coll descreve como a ExxonMobil usa o poder do estado dos EUA para encontrar mais reservas de petróleo e garantir que a ExxonMobil se beneficie dessas descobertas.
Caminhando pelos vários centros de votação em Caracas no dia da eleição, ficou claro que as pessoas que votaram sabiam exatamente pelo que estavam votando: não tanto contra o povo da Guiana, um país com uma população de pouco mais de 800 mil habitantes, mas estavam votando pela soberania venezuelana contra empresas como a ExxonMobil.
A atmosfera nesta votação – embora às vezes infundida com patriotismo venezuelano – era mais sobre o desejo de remover a influência de corporações multinacionais e permitir que os povos da América do Sul resolvam suas disputas e dividam suas riquezas entre si.
Quando a Venezuela expulsou a ExxonMobil – Quando Hugo Chávez venceu a eleição para a presidência da Venezuela em 1998, ele disse quase imediatamente que os recursos do país – principalmente o petróleo, que financia o desenvolvimento social do país – devem estar nas mãos do povo e não de empresas de petróleo como a ExxonMobil.
“El petroleo es nuestro” (o petróleo é nosso) foi o slogan do dia.
A partir de 2006, o governo de Chávez iniciou um ciclo de nacionalizações, com o petróleo no centro (o petróleo havia sido nacionalizado na década de 1970, depois privatizado novamente duas décadas depois).
A maioria das empresas multinacionais de petróleo aceitou as novas leis para a regulamentação da indústria do petróleo, mas duas se recusaram: ConocoPhillips e ExxonMobil.
Ambas exigiram dezenas de bilhões de dólares em compensação, embora o Centro Internacional para Resolução de Disputas sobre Investimentos (ICSID) tenha concluído em 2014 que a Venezuela só precisava pagar US$ 1,6 bilhão à ExxonMobil.