O blog, mais uma vez, reproduz texto referente a uma notícia envolvendo Fernando Collor.
Mas, desta vez, o sentimento – que não tem como ser outro senão o provocado pelo escárnio – é o que salta aos olhos diante do registro do jornalista Carlos Madeiro, em coluna publicada no início da noite, no portal UOL.
O texto fala por si – de modo irretocável, como sempre.
E cita o aspecto que vem â memória ao se mencionar Collor e cerimônias em tribunais.
No caso, a da posse do ministro Flávio Dino, em fevereiro, no STF – que o condenou a oito anos de prisão, por corrupção, no ano passado.
Em comentário sobre o episódio, o jornalista Josias de Souza não poupou: classificou de cara de pau a atitude de Collor de comparecer a um tribunal que o tinha condenado.
Neste caso, a ressalva a se fazer é a seguinte: como ex-presidente (embora tenha sido escorraçado da Presidência, pelo impeachment), é de se imaginar que caberia ao cerimonial fazer o convite.
Caberia a Collor, se não fosse a empáfia que lhe é peculiar não ir.
No caso de Alagoas: o convite partiu do Tribunal (bem provavelmente pelas mesmas razões cerimoniais) – e não o bastasse cedeu-lhe o lugar de honra.
E, ao contrário da mais alta corte do país, onde o julgamento já transcorreu, o Tribunal de Justiça de Alagoas está para analisar um recurso em que as empresas de Collor querem manter à força a filiação à Rede Globo – o que a emissora carioca não quer.
Segue o texto da matéria do jornalista Carlos Madeiro:
O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi convidado especial e se sentou à mesa ao lado de autoridades, nesta tarde, durante a posse do novo desembargador do TJ-AL (Tribunal de Justiça de Alagoas), Márcio Roberto Tenório de Albuquerque.
Condenado a oito anos de prisão por corrupção pelo STF, Collor foi chamado para compor a mesa e ganhou cadeira de destaque, ao lado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
Também estiveram presentes o governador, Paulo Dantas (MDB), e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL).
Citado em vários discursos da cerimônia, Collor foi elogiado pelo novo desembargador em seu discurso de posse.
“Presidente de sempre, Fernando de Collor de Mello. Minhas admirações e respeito. Vossa excelência foi quem assinou nossa nomeação para promotor. Lá se vão 37 anos decorridos [entrou em março de 1987], e tenha certeza de que nunca deixei de honrar aquela assinatura”, disse Márcio Roberto.
A coluna procurou a assessoria do TJ-AL para comentar a razão de Collor ser chamado à mesa de convidados principais, mas foi informado de que não havia como dar a resposta hoje. O texto será atualizado quando houver retorno.
Essa não é a primeira vez que Collor chama a atenção ao aparecer em posses este ano. Em fevereiro, ele esteve nas cerimônias de posse do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; e depois, na de Flávio Dino no STF.
Em nenhuma delas, porém, sentou-se à mesa ou foi citado oficialmente.
Convite de honra às vésperas de julgamento
Na próxima quinta-feira (02), a 3ª Câmara Cível do TJ-AL julgará o recurso da TV Globo contra a TV Gazeta, de propriedade de Collor e familiares, em que a emissora carioca pede o fim do contrato de retransmissão em Alagoas.
O contrato foi renovado à força após decisão judicial, em dezembro de 2023 (leia mais abaixo).
O julgamento havia sido marcado inicialmente para 10 de abril, mas foi adiado e remarcado após o desembargador Alcides Gusmão se declarar suspeito para julgar o caso.
No seu lugar, foi convocado o desembargador Ivan Vasconcelos Brito Junior.
A câmara é formada por três desembargadores, e um deles, Paulo Zacarias, já votou a favor da Globo para que a emissora não seja obrigada a manter relações comerciais com a Gazeta.
Entenda a história
A TV Gazeta conseguiu na Justiça, em dezembro de 2023, uma liminar obrigando a Globo a renovar o contrato de filiação.
A decisão foi assinada pelo juiz do processo de recuperação judicial das empresas de comunicação da família de Collor, a OAM (Organizações Arnon de Mello).
Em dezembro, o relator do processo, Paulo Zacarias, acolheu o recurso da TV Globo, mas manteve os efeitos da liminar até o julgamento da 3ª Câmara Cível do TJ.
Agora, basta somente mais um voto acompanhando o relator para que a TV de Collor seja desfiliada da Globo.
O MP (Ministério Público) de Alagoas já emitiu parecer favorável à TV Globo, afirmando que o juízo da recuperação judicial é “incompetente para a apreciação da demanda”.
Carlos Madeiro — Colunista do UOL