“Chegamos muito perto do impensável no Brasil”, diz Barroso nos EUA

Presidente do STF, Barroso disse que Brasil viveu período de “populismo autoritário” sob Bolsonaro e criticou politização das Forças Armadas
Barroso: em palestra nos EUA, o ministro afirmou que, assim como em outros países, a Suprema Corte foi atacada por um movimento de “populismo autoritário”. (Foto: reprodução)

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou neste sábado (06), em palestra nos Estados Unidos, que o Brasil viveu um período de “populismo autoritário”, nos anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e que chegou “muito perto do impensável”.

Em palestra na Brazil Conference, evento realizado na Universidade de Harvard, em Cambridge (EUA), o ministro também criticou as Forças Armadas por tentarem “desacreditar” o sistema eleitoral brasileiro e afirmou que as instituições brasileiras ficaram “por um triz”.

O tema da palestra era “Populismo Autoritário, Resiliência Democrática e as Supremas Cortes”.

Um debate com o professor de Harvard Steven Levitsky, autor do livro Como as Democracias Morrem, marcou o fim do evento.

Sem citar o nome de Bolsonaro, mas em referência clara ao período de governo do ex-presidente, Barroso afirmou que o Brasil passou por um processo de “erosão democrática, tijolo a tijolo”.

“Não é um golpe, é um esvaziamento progressivo”.

“Começou com o esvaziamento da participação da sociedade civil nos órgãos de formulação de políticas públicas e ambientais e de crianças e diversas outras”, disse Barroso.

“Depois, no Brasil, estou descrevendo fatos, e não emitindo opinião, houve um desmonte dos órgãos de proteção ambiental, de proteção às comunidades indígenas e não demarcação de um milímetro sequer de terras indígenas, como determina a Constituição, um negacionismo pleno da ciência durante a pandemia”, salientou o ministro.

O presidente do STF ressaltou ainda que, apesar de ter 2,7% da população mundial, o Brasil teve 10,2% das mortes na pandemia.

“Esse foi o tamanho da má gestão da pandemia no Brasil”, frisou.

O ministro afirmou que, assim como em outros países, a Suprema Corte foi atacada por um movimento de “populismo autoritário”.

“O populismo autoritário precisa ter inimigos”, disse.

“E na maior parte dos casos, embora não nos EUA, por razões relativamente óbvias, um dos inimigos eleitos pelo populismo autoritário são as Supremas Cortes, os tribunais constitucionais”.

“Foi o que aconteceu na Hungria, na Polônia, Turquia, Rússia, Venezuela, e foi também o que aconteceu no Brasil.”

Barroso lembrou ainda como o bolsonarismo fez de tudo para emplacar o “voto impresso” e descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro.

E criticou as Forças Armadas por terem feito parte dessa empreitada.

Em referência a elas, pontuou que “mentem e depois dizem que não fizeram”.

“Como aconteceu no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]; devidamente avisado, eu disse: infelizmente, a representação das Forças vai usar esse assento para tentar desacreditar o sistema”.

“Veio uma nota das Forças Armadas dizendo que nunca haviam sido tão ofendidos”.

“E 48h depois fizeram isso”.

“O Brasil é um país em que as pessoas se ofendem com o que fazem”, assinalou.

O relato do ministro se refere ao acompanhamento que militares fizeram das eleições de 2022.

Barroso tem criticado o levantamento de suspeitas sobre a higidez do sistema eleitoral em meio ao pleito em que Bolsonaro saiu derrotado pelo presidente Lula.

O presidente do STF disse ainda que o país chegou “perto do impensável”.

“Foi isso que o Brasil viveu e passou dentro desse contexto histórico, teórico, que eu procurei retratar: um populismo autoritário e como ele impactou o mundo”.

“A verdade é que, felizmente, as instituições venceram no Brasil”.

“Mas, como os fatos têm demonstrado, nós ficamos por um triz, chegamos muito perto do impensável no Brasil”, destacou.

Luiz Vassallo

Leia também