Os brasileiros enfrentaram quase três meses a mais de dias quentes nos últimos doze meses por causa da mudança climática.
É o que mostra um relatório publicado nesta terça-feira (28) por entidades internacionais que analisaram dados de 2023 e de 2024 em comparação com a média de décadas anteriores.
A análise foi feita em conjunto por grupos internacionais como World Weather Attribution, Climate Central e do Centro Climático da Cruz Vermelha.
Os autores do relatório consideraram que a temperatura de um determinado dia era anormal em um determinado local se excedesse 90% das temperaturas diárias registradas entre 1991 e 2020.
Os dados analisados levam em conta o período de junho de 2023 a abril de 2024 em mais de 160 países.
No Brasil, foram 83 dias de calor fora do normal. Isso significa quase três vezes a média global da pesquisa, que foi de 26 dias.
Segundo a análise, mais de 6 bilhões de pessoas no mundo foram expostas a temperaturas nunca vistas nos últimos 29 anos.
Os países mais impactados foram os localizados próximos à linha do Equador:
Suriname – 182 dias
Equador – 180 dias
Guiana – 174 dias
El Salvador – 163 dias
Panamá – 149 dias
Os últimos 12 meses foram os mais quentes já registrados no planeta.
O que os pesquisadores apontam é que o calor extremo é resultado das mudanças climáticas, reflexo da queima de combustíveis fósseis.
O aquecimento global é causado pelos gases de efeito estufa que retêm o calor do nosso Sol na atmosfera.
Esses gases, como o CO2 (gás carbônico), são liberados quando queimamos combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, algo que não fazíamos antes da Revolução Industrial, pelo menos em larga escala.
Desde então, a quantidade de CO2 na atmosfera aumentou mais de 50% – e continua crescendo.
Em 2023, as concentrações desses gases na atmosfera atingiram níveis sem precedentes.
Impactos no Brasil
No Brasil, nos últimos meses vimos:
Na última década, houve aumento de quase sete vezes na incidência de ondas de calor.
Elas também estão cada vez mais longas; a mais recente durou mais de dez dias.
Em maio de 2024, mês que antecede o inverno e que as temperaturas deveriam ser amenas, cidades pelo país registraram até 8°C acima da temperatura média.
Enquanto a seca castigava o Norte do país com a terra exposta onde antes eram rios, o Sul foi tomado pela forte chuva que devastou o Rio Grande do Sul.
Fenômenos naturais e mudanças climáticas
Neste ano, o país também esteve sob a influência do El Niño, fenômeno que aquece as águas do Oceano Pacífico e interfere na chuva e, consequentemente, na temperatura.
No entanto, o que as análises indicam é que o aumento atípico da temperatura tem relação com as mudanças climáticas.
Isso porque o El Niño ocorre de tempos em tempos (entre dois e sete anos).
Ou seja, é um fenômeno que já influenciou o clima na Terra em outros anos.
Apesar disso, nunca vimos os recordes registrados nos últimos 12 meses.
A causa, segundo os especialistas, é um clima já mais quente e que, ao passar por fenômenos antes previstos, está mostrando um resultado extremo.
No estudo, a análise incluiu cálculos matemáticos que simulavam as condições da Terra em uma temperatura não alterada pelos gases do efeito estufa.
A conclusão foi que, sem a pressão das mudanças climáticas, o país teria vivido 18 dias a menos de calor extremo.
Poliana Casemiro — G1