Em 8 de fevereiro, agentes da Polícia Federal cumpriram mandados de prisão e de busca e apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), generais do Exército e aliados.
O grupo ligado ao ex-presidente é investigado por uma tentativa de golpe de Estado, após as eleições de 2022, na qual Bolsonaro foi derrotado por Lula no segundo turno.
Quatro dias após ser alvo da Polícia Federal, Bolsonaro passou dois dias na embaixada da Hungria em Brasília. Imagens obtidas com exclusividade pelo jornal norte-americano The New York Times mostram o ex-presidente circulando pelas dependências da embaixada.
Bolsonaro foi acompanhado por dois seguranças e servido pelo embaixador húngaro, Miklós Halmai, e por membros da equipe.
Com o avançar das investigações, Bolsonaro foi acolhido por Halmai. As embaixadas são consideradas legalmente como territórios fora do alcance das autoridades brasileiras.
Por isso, o ex-presidente não poderia ser preso na embaixada húngara.
De acordo com o NYT, Bolsonaro também desejava fortalecer os laços de amizade com o primeiro-ministro da Hungria, o líder de extrema direita Viktor Orban.
Os dois mantém uma relação próxima há anos.
Em visita a Hungria, o ex-presidente brasileiro chegou a se referir a Orban como seu “irmão”.
Na posse de Javier Milei, na Argentina, o primeiro-ministro húngaro chamou Bolsonaro de “herói”.
Nas eleições de 2022, Orban perguntou se havia algo que a Hungria pudesse fazer para que Bolsonaro se reelegesse.
Neste ano, após o ex-presidente ser alvo da Polícia Federal, o primeiro-ministro da Hungria disse que Bolsonaro era um “patriota honesto” e disse para ele “continuar lutando”.
Bolsonaro na embaixada
Câmeras de segurança da embaixada filmaram o carro que levava Bolsonaro entrando na casa na noite do dia 12 de fevereiro, uma segunda-feira.
A embaixada estava vazia, com exceção de alguns diplomatas húngaros.
O restante dos funcionários estava de férias por causa do feriado de Carnaval.
Às 21h34, um carro preto aparece na entrada da embaixada. Um homem sai, bate palmas para chamar a atenção dos funcionários, e três minutos depois o embaixador abriu o portão e indicou onde estacionar.
Após entrar na garagem, dois homens – que parecem ser seguranças saem do carro, junto com Bolsonaro.
Os três são recepcionados por Halmai.
Os quatro conversam um pouco e, em seguida, entram em um elevador.
Nas imagens seguintes, equipes da embaixada aparecem levando água e roupa de cama para o apartamento de hóspedes da embaixada. Na manhã seguinte, no dia 13 de fevereiro, um outro funcionário aparece levando uma cafeteira até Bolsonaro.
O ex-presidente brasileiro deixa a embaixada na tarde do dia 14 de fevereiro, uma quarta-feira.
Bolsonaro confirma que esteve na embaixada
Ao colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, Bolsonaro confirmou que esteve na embaixada.
“Não vou negar que estive na embaixada sim”, disse.
“Não vou falar onde mais estive”.
“Mantenho um círculo de amizade com alguns chefes de estado pelo mundo”.
“Estão preocupados”.
“Eu converso com eles assuntos do interesse do nosso país. E ponto final. O resto é especulação”, afirmou.
Como foi a suposta tentativa de golpe?
Segundo a apuração feita pela Polícia Federal, o grupo composto por aliados do ex-presidente Bolsonaro agiu em conluio em dois diferentes eixos para tentar anular as eleições presidenciais de 2022.
Em uma primeira frente, a Polícia Federal identificou que aliados do ex-presidente construíram e propagaram uma versão fraudulenta sobre as eleições.
Essas teorias foram disseminadas na internet e apontavam uma versão falaciosa sobre vulnerabilidades nas urnas eletrônicas – discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022, segundo a PF.
Em um segundo momento, esses aliados atuaram para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
Fernanda Rodrigues (*Com informações de Pedro Nascimento)