Barroso pede vista e suspende julgamento sobre foro privilegiado

Regra estabelece quem pode ser investigado, processado e julgado na Suprema Corte
Imagem do Ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, que pediu vistas (para fazer análise mais detalhada do tema) em julgamento de processo sobre foro privilegiado. (Foto: reprodução / Carlos Moura / SCO / STF)

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista do processo que julga o alcance do foro por prerrogativa de função, conhecido como “foro privilegiado”.

Com isso, o julgamento está suspenso, sem data para ser retomado.

A norma estabelece quem pode ser investigado, processado e julgado na Suprema Corte.

O caso tramita no plenário virtual, em que não há discussão sobre o tema.

Os ministros Cristiano Zanin e Gilmar Mendes defendem foro privilegiado após saída do cargo.

Nesta sexta-feira (29), o ministro Gilmar Mendes, relator da questão, abriu a votação virtual, com uma manifestação favorável a estender o foro.

O ministro Cristiano Zanin acompanhou “integralmente” o voto do relator.

Gilmar propôs que, quando se tratar de crimes funcionais, o foro deve ser mantido mesmo após a saída das funções. Isso valeria para casos de renúncia, não reeleição, cassação, entre outros motivos.

O ministro também defende que, no fim do mandato, o investigado deve perder o foro se os crimes foram praticados antes de assumir o cargo ou não possuírem relação com o exercício da função.

Em sua manifestação, Zanin disse “subscrever, na íntegra, a tese proposta por sua Excelência, com aplicação imediata, no sentido de que ‘a prerrogativa de foro para julgamento de crimes praticados no cargo e em razão das funções subsiste mesmo após o afastamento do cargo, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados depois de cessado seu exercício’”.

A decisão desse tema poderia afetar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que é contra ser julgado no STF pela possível falsificação do seu cartão de vacinação.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) defende algo semelhante, em relação ao episódio de quando perseguiu, com arma em punho, um homem por São Paulo, em 2022.

Habeas Corpus

A corte analisa um habeas corpus movido pela defesa do senador Zequinha Marinho, do Podemos do Pará.

Marinho é réu em uma ação penal na Justiça Federal do Distrito Federal por supostamente, enquanto foi deputado federal, ter ordenado que servidores de seu gabinete devolvessem 5% de seus salários para o PSC, então seu partido.

Marinho é réu no processo pelo crime de concussão, e seus advogados pediram ao STF que o caso seja julgado pela Corte, já que, desde 2007, Zequinha Marinho exerceu cargos com foro privilegiado: deputado federal (2007-2015), vice-governador (2015-2018) e senador (2019-2027).

Decisão de 2018

Em 2018, com o argumento de reduzir o volume de processos na Corte, os ministros decidiram que deveriam tramitar no STF apenas processos de deputados, senadores, ministros de Estado e outras autoridades que, supostamente, tivessem cometido crimes no exercício do mandato e relacionados a ele.

Até então, todo inquérito ou ação dessas autoridades tramitava na Suprema Corte.

O encerramento do mandato de deputados e senadores, por qualquer causa, como renúncia, cassação ou não reeleição – este último o caso do senador Zequinha Marinho, autor do habeas corpus – leva ao envio do caso à primeira instância.

Foro e questionamentos de aplicação

Além de Bolsonaro e Zambelli, também surge a discussão sobre o caso dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

A análise da ação pelo STF, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes, está na Corte pela prerrogativa de foro do deputado federal Chiquinho Brazão.

No entanto, ele era vereador à época do crime, em 2018.

O que tem levantado questionamentos sobre a instância adequada de atuação

Assim, a controvérsia deve ser analisada para que pontos sejam esclarecidos, com possibilidade de adequações, a depender de como votarem os ministros.

Leonardo Ribbeiro — CNN; Isabella Cavalcante — Metrópoles

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