Arquidiocese de SP se diz perplexa com possível CPI

Sob argumento de investigar ONGs, vereadores paulistanos querem apurar atuação do padre Júlio Lancellotti
Padre Júlio Lancellotti, numa das atividades da Pastoral da Pessoa de Rua: vereador Rubinho Nunes (União Brasil) pretende abrir comissão que investigaria atuação de ONGs que atuam no centro da cidade. (Foto: reprodução)

A Arquidiocese de São Paulo diz “acompanhar com perplexidade” a possível abertura de uma CPI, na capital, que teria como um dos alvos o padre Júlio Lancellotti.

“Perguntamo-nos, por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral”?, diz a nota da instituição, publicada na quarta-feira (3).

“Padre Júlio não é parlamentar. Ele é o vigário episcopal da Arquidiocese de São Paulo para o ‘Povo da Rua’ e exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”.

A declaração se dá em meio à possibilidade de abertura de uma CPI para investigar organizações que atuam no centro de São Paulo.

O autor do requerimento, vereador Rubinho Nunes (União Brasil), afirmou à CNN que já tem apoio suficiente para a abertura de uma CPI sobre o tema.

O pedido foi protocolado no dia 6 de dezembro do ano passado. A expectativa do parlamentar é que a comissão seja instalada em fevereiro, no início do ano legislativo.

Apesar de o requerimento para a abertura da CPI não citar nenhuma organização especificamente, o vereador disse à CNN que, inicialmente, serão investigadas duas delas: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e a Craco Resiste.

O parlamentar acrescentou que, além delas, também devem ser examinadas todas as outras que atuam na região, e citou especificamente a atuação do padre Júlio Lancellotti, conhecido por trabalhar junto à população em situação de rua na capital paulista.

Pelas redes sociais, o padre reconheceu a abertura de comissões parlamentares de inquérito como legítimas e afirmou que uma CPI é uma prerrogativa do poder Legislativo.

O padre ainda esclareceu que não pertence a nenhuma organização da sociedade civil ou ONG que utilize de convênio com o poder público municipal.

“A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez não se encontra vinculada de nenhuma forma às atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para a criação da CPI em questão”, diz.

Em nota, o coletivo Craco Resiste afirmou não ser uma ONG, mas um “projeto de militância para resistir contra a opressão junto com as pessoas desprotegidas socialmente da região da Cracolândia”.

“Enxergamos esse tipo de ataque também como uma maneira de tirar o foco da discussão, mantendo aberto o ralo de dinheiro que passa ainda pela violência policial e a suposta repressão ao tráfico”, diz outro trecho do comunicado à imprensa.

Mathias Brotero – CNN/São Paulo

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