Tecnologia revelou invasão russa e esconde movimentação de Israel

Colunista da Agência Pública revela emaranhado entre tecnologia e democracia, tecnologia e poder
Precisão das imagens de satélite são hoje elemento da chamada guerra tecnológica: quando existe interesse de quem detém a tecnologia, imagens são precisas (como as da imagem) e veículos de mídia têm acesso; quando não, imagens são “borradas”. (Foto: reprodução)

Nos últimos anos, empresas privadas de satélite passaram a vender imagens em alta qualidade para veículos noticiosos de todo o mundo, possibilitando um tipo de jornalismo que hoje é conhecido por “open source intelligence” (OSINT) ou investigação visual. ⁠

Empresas como Planet Labs, Maxar Technologies e Airbus expandiram sua reputação e seus contratos durante a guerra na Ucrânia, ao permitir a clientes do mundo inteiro observar as movimentações da invasão russa quase em tempo real. No final de 2022, as imagens deram corpo às declarações do presidente americano, Joe Biden, sobre uma invasão russa iminente, por exemplo. ⁠

Agora, com o invasor alinhado ao governo americano, a coisa muda um pouco de figura. Uma reportagem do site Semafor revelou que essas mesmas empresas decidiram “borrar” imagens do norte de Gaza que mostravam a localização de tanques israelenses e que vinham sendo usadas por jornais para relatar o que se passava no terreno. Aparentemente, a mudança aconteceu depois de uma reportagem do New York Times detalhar o posicionamento das forças invasoras. O nível de detalhamento das imagens “preocupou oficiais de segurança do governo americano”, diz a reportagem. ⁠

A mudança de postura demonstra que, embora na teoria a tecnologia seja neutra, não existe uso neutro da tecnologia. ⁠

Natalia Viana, colunista – Agência Pública

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