O Papa Francisco elevou à santidade, neste domingo (11), a primeira santa mulher da Argentina, um evento que trouxe ao Vaticano seu antigo crítico vocal, o presidente argentino Javier Milei.
Milei, um libertário de direita, tinha – antes de concorrer à presidência – chamado Francisco de “imbecil” e “filho da p*** pregador do comunismo”, mas suavizou seu tom desde que assumiu o cargo em dezembro.
O Papa, por sua vez, disse que não prestou muita atenção aos insultos, dizendo à emissora mexicana N+ que o que importa é o que os políticos fazem no cargo, e não na campanha.
Francisco liderou uma missa de canonização na Basílica de São Pedro para Maria Antônia de Paz y Figueroa, mais conhecida como “Mama Antula”, uma leiga consagrada do século XVIII que renunciou às riquezas de sua família para se concentrar na caridade e nos exercícios espirituais jesuítas.
A cerimônia ocorre enquanto a Argentina enfrenta sua pior crise econômica em décadas, com a inflação em mais de 200%, e o recém-instalado Milei em dificuldade após a rejeição parlamentar de um grande pacote de reformas.
Milei tinha um assento na primeira fila para o culto e, no final, trocou algumas palavras com o Papa, enquanto apertavam as mãos e se abraçavam.
O presidente vai ter uma audiência privada com Francisco na segunda-feira (12).
Francisco, um ex-arcebispo de Buenos Aires que irritou alguns de seus compatriotas por nunca visitar sua terra natal desde que se tornou papa em 2013, disse que pode finalmente fazer a viagem no segundo semestre deste ano.
Santa argentina
Mama Antula era filha de um rico proprietário de terras e escravos
Ela promoveu exercícios espirituais, incluindo orações e meditação, caminhando milhares de quilômetros descalça e envolvendo os ricos e pobres nesses esforços, apesar dos jesuítas serem banidos da América Latina na época.
Francisco, ele mesmo jesuíta, descreveu-a na sexta-feira (09) como um “presente para o povo argentino e, também, para toda a Igreja”.
Citando seus escritos anteriores, o Papa condenou o “individualismo radical” que permeia a sociedade como um “vírus”, em palavras que podem se misturar com os radicais instintos de livre mercado de Milei.
Em sua homilia de domingo (11), ele voltou à questão de cuidar dos pobres e párias, dizendo que “o medo, o preconceito e a falsa religiosidade” levaram as pessoas à “grande injustiça” de ignorar a situação dos fracos.
Na segunda-feira (12), encerrando uma viagem de uma semana no exterior que o levou a Israel antes da Itália e do Vaticano, Milei também deve encontrar o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e a primeira-ministra, Giorgia Meloni.
Alvise Armellini – Reuters / Cidade do Vaticano