SP: executado em frente à esposa – homicídios na Europa, identidade falsa e vida dupla como marceneiro

Darko Geisler, era sérvio, procurado pela Interpol, suspeito de ser “matador de aluguel", morava no Brasil e dizia ser o esloveno
Polícia Civil se deparou com caso intrincado, ao investigar homicídio de Darko Geisler: o sérvio era procurado pela Interpol, suspeito de ser "matador de aluguel", morava no Brasil e dizia ser o esloveno "Dejan Kovac" – foi executado a tiros na frente da esposa e do filho. (Foto: reprodução)

A execução de Darko Geisler, o sérvio que se passava por esloveno e era procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), ganhou repercussão nacional e internacional.

O homem, suspeito de ser um “matador de aluguel” na Europa, foi morto a tiros na frente da esposa e do filho, em Santos, no litoral de São Paulo. Confira, abaixo, o que se sabe sobre o caso.

O sérvio, que fingia ser um esloveno chamado Dejan Kovac, foi executado na Rua São José, no bairro Embaré. Ele chegou a ser resgatado consciente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas sofreu uma parada cardiorrespiratória a caminho da Santa Casa de Santos e morreu.

Darko Geisler foi morto a tiros no último dia 5 de janeiro, por volta das 19h. O sérvio foi alvejado pelas costas por um homem que se aproximou enquanto ele chegava em casa de bicicleta ao lado da esposa e do filho pequeno. Ao menos três disparos foram efetuados, com base nas cápsulas deflagradas encontradas pela Polícia Científica.

Nas imagens, obtidas pelo G1 (responsável por esta reportagem), é possível ver Darko Geisler chegando de bicicleta ao prédio com o filho e a esposa, que aparece de vermelho em outra bike.

Em seguida, um homem aparece por trás dele e atira algumas vezes antes de fugir. A criança, que estava em uma cadeirinha, caiu no chão.

A PM informou que, inicialmente, o chamado para a ocorrência citava que o autor dos disparos teria passado de bicicleta pelo local e atirado contra a vítima.

Posteriormente, foi repassado que um carro preto teria sido utilizado no crime.

As imagens não confirmam nenhuma das versões.

Quem é o ‘falso esloveno’?

Darko Geisler é suspeito de ser como “matador de aluguel” na Europa e fazer parte de uma organização criminosa que atua na Sérvia.

A Polícia Civil divulgou, em entrevista coletiva realizada em Santos (SP), que o homem usava o nome falso e vivia clandestinamente no Brasil há 9 anos.

Antes da confirmação sobre a identidade do homem pela corporação, a esposa de Darko Geisler afirmou ao g1 a vida anterior do marido “não lhe dizia respeito”.

Como a polícia desvendou a falsa identidade dele?

Conforme registrado no boletim de ocorrência, a Polícia Civil passou a investigar a identidade do homem logo após a execução. A corporação colheu provas testemunhais que trouxeram dúvidas sobre a origem dele, ‘confirmada’ inicialmente por um passaporte de nacionalidade eslovena.

A Polícia Civil informou ter entrado em contato com o consulado esloveno em Brasília, onde confirmou que os dados não remetiam a nenhuma pessoa daquele país.

Assim que os investigadores enviaram uma cópia do passaporte ao consulado, o órgão informou que ele pertencia tinha sido perdido por um cidadão em 2017.

O documento, inclusive, foi cancelado.

A corporação registrou no BO ter localizado uma publicação em um site sérvio que mostrava um homicídio cometido por uma pessoa com traços “idênticos” aos do homem. Após acionar o Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) e, também, a Interpol, além de fazer tratativas com as autoridades sérvias, a identidade de Darko Geisler foi confirmada.

O que ele fazia e como vivia no Brasil?

Conforme apurado pelo G1, Geisler trabalhava no Brasil como marceneiro e era tido por vizinhos como um homem “reservado” e “tranquilo”.

Segundo a Polícia Civil, ele não tinha documentos brasileiros, tampouco uma fonte de renda ativa.

Geisler vivia de rendimentos enviados pela família mensalmente, de um comércio que teria no leste europeu.

De acordo com a corporação, o casal se conheceu entre 2015 e 2016, em São Paulo.

Eles passaram a morar na Baixada Santista em 2017.

Um fato que chamou atenção da polícia é que o filho do casal, prestes a completar 4 anos de idade, é registrado somente com o sobrenome da mãe. Segundo as autoridades, a esposa dele já prestou depoimento, mas deve ser chamada novamente para prestar mais esclarecimentos.

Por que ele era procurado pela Interpol?

De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Civil, contra Darko Geisler havia uma ordem de prisão internacional.

Ele era integrante de uma organização criminosa que atua na Sérvia, segundo o registro, e era suspeito de cometer homicídios, além de portar armas e explosivos em Montenegro.

Darko Geisler estava na lista de Difusão Vermelha, também conhecida como ‘red notice’, da Interpol.

Ela permite a prisão da pessoa que está em um país estrangeiro. Portanto, é válida para a detenção de quem está no Brasil e tem a custódia decretada em outro país, como é o caso de Geisler, que vivia com documentos falsos.

A equipe de reportagem apurou que o nome e a foto dele deixaram de ser exibidos na lista de difusão vermelha da Interpol após a execução.

Qual foi a repercussão do caso?

A execução de Darko Geisler repercutiu na imprensa internacional. Sites de notícias do país onde nasceu o procurado pela Interpol especulavam que ele sequer estaria vivo, pois “todos os vestígios dele teriam sido perdidos” há cerca de uma década.

O site sérvio Bric publicou sobre a suspeita de que ele teria usado uma identidade falsa no Brasil.

Ainda de acordo com a página, a mídia internacional aponta que Darko Geisler teria morrido após um assassinato cometido em dezembro de 2014.

Outro site de notícias sérvio, o Kurir, afirmou que ele era acusado pela morte de Andrija Mrdak, no dia 25 de dezembro daquele ano, em frente à entrada do presídio de Spuž, em Montenegro.

O homem estaria visitando o irmão na prisão e, assim como Geisler, morreu na frente da esposa.

A polícia de Montenegro o procurava desde o assassinato, depois de terem encontrado vestígios do DNA de Geisler na cena do crime.

G1 / Santos

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