Sistema Nacional da Educação volta ao Senado e prevê “CPF estudantil”

O SNE, o chamado SUS da educação, está previsto na Constituição de 1988; Congresso deveria ter aprovado sistema até 2016
Senado vai decidir sobre mudanças da Câmara ao projeto que cria o SNE, previsto na Constituição como forma de erradicar o analfabetismo, melhorar o ensino e promover o conhecimento científico, entre outros objetivos; Plano Nacional de Educação (PNE) definiu que parlamentares deveriam ter aprovado a implementação do sistema até 2016, mas até hoje não foi colocado em prática. (Foto: reprodução / Pedro França / Agência Senado)

O Senado deve analisar novamente o projeto que cria o Sistema Nacional de Educação (SNE), desta vez, na forma alternativa proposta pela Câmara dos Deputados (PLP 235/2019).

Agora, o texto prevê uma identificação nacional para cada aluno e uma plataforma que une dados sobre escolas e qualidade do ensino.

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto na última quarta-feira (3).

Os governos federal, estaduais e municipais devem melhorar a articulação na educação com novas informações e decisões compartilhadas.

A avaliação é do senador Flávio Arns (PSB-PR), autor original do projeto.

“Assim como o SUS transformou a saúde ao adotar uma governança interfederativa, o SNE também [fará isso na educação]”.

“Esse modelo não retira autonomia dos estados e municípios”.

“Pelo contrário, aumenta a participação desses entes nas políticas, que hoje estão centralizadas no Ministério da Educação”, disse ele em suas redes sociais.

O Senado aprovou o projeto em março de 2022.

Como os deputados alteraram o texto na forma do substitutivo do deputado Rafael Brito (MDB-AL), as regras do Congresso Nacional exigem que o texto volte ao Senado.

O SNE está previsto na Constituição Federal de 1988 como forma de erradicar o analfabetismo, melhorar o ensino e promover o conhecimento científico, entre outros objetivos.

Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), os parlamentares deveriam ter aprovado a implementação do sistema até 2016, o que não ocorreu.

Sistema de informações

A versão dos deputados prevê que todos os estudantes terão um Identificador Nacional Único do Estudante (INUE), que será o mesmo número do CPF.

Isso permitirá dados mais precisos sobre alunos que abandonam a escola, dificuldades de transporte e trocas de escolas, por exemplo.

Além disso, o texto prevê uma futura Infraestrutura Nacional de Dados da Educação (INDE), para unir informações dos estabelecimentos e sistemas de ensino.

Municípios, estados e União têm seus próprios sistemas de educação, que poderão conversar entre si.

Por outro lado, os municípios não serão obrigados a se integrar aos sistemas estaduais.

Comissão

O Poder Executivo federal deverá criar a Comissão Intergestores Tripartite da Educação (Cite) para sugerir políticas educacionais comuns em nível nacional. Para isso, ela será composta por 18 representantes — seis da União, seis dos estados e seis dos municípios.

A comissão poderá propor prioridades e divisões de responsabilidade para o MEC, secretarias estaduais e municipais, por exemplo.

Também terá o poder de impor um padrão mínimo de qualidade na educação básica, que vai da creche ao ensino médio.

A comissão será uma das responsáveis pelo cálculo do indicador Custo Aluno Qualidade, que mede a necessidade das escolas e ajuda a definir quais locais precisam de mais investimento.

Já as Comissões Intergestores Bipartite da Educação (Cibe) serão formadas por seis representantes do respectivo estado e seis dos seus municípios.

Tem função semelhante à Cite, sendo que todas suas decisões são facultativas.

Ambas as comissões estavam no texto aprovado no Senado e foram mantidas pelos deputados.

Ensino básico

O projeto prevê uma Avaliação Nacional da Educação Básica para indicar o desempenho dos estudantes e da gestão de escolas públicas e privadas.

Pelo menos 80% dos alunos devem participar, regra já observada há alguns anos. Haverá exigências mínimas de qualidade quanto a:

Plano de carreira e piso salarial para professores

Jornada escolar mínima

Quantidade de professor por alunos

Formação dos professores

Estrutura física

Tecnologias digitais

Taxa adequada de aprovação

Atualmente, o diagnóstico no ensino básico é feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com parâmetros semelhantes.

A partir de 2005, um dos instrumentos utilizados pelo órgão também era chamado de Avaliação Nacional da Educação Básica, mas foi reestruturado em 2019.

O projeto obriga os estados a desenvolverem seus próprios sistemas de avaliação, a serem integrados ao SNE.

Os municípios também devem assegurar que suas avaliações sejam ligadas a ambos os sistemas.

Ensino superior

A União analisará os estabelecimentos de ensino superior por meio de avaliações nacionais próprias: uma para o nível de graduação e outra para a pós-graduação stricto sensu, que engloba mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Os diagnósticos serão para o ensino público e privado, e servirão de base para a regulação do setor pelo MEC.

Atualmente, o Inep também avalia o desempenho dos universitários por meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Já a chamada avaliação in loco serve para o credenciamento dos estabelecimentos pelo MEC.

Legislação federal

O projeto também reforça certas estruturas que hoje são previstas apenas em leis temporárias ou decisões dos ministérios.

Para isso, a proposta é incluir em lei federal:

Fórum Nacional de Educação, que coordena reuniões sobre educação em diversas regiões. Atualmente, o fórum está previsto no Plano Nacional de Educação, válido apenas até 2025

Fórum para acompanhar questões sobre o piso salarial de professores, que funciona hoje com base em portaria do Ministério da Educação;

Exigência de que municípios e estados elaborem seus próprios planos de educação a cada dez anos.

Atualmente, a previsão consta no PNE de 2014.

Fonte: Agência Senado

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