Sinais de grupos do prefeito e do Governo não são aliança, diz analista

Para Marcelo Bastos, até o momento, suposto acerto não teve um componente essencial: “você viu algum pronunciamento de JHC a respeito disso? Não”
A foto, na nomeação da ministra, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: para o analista não é um atestado de aliança – “ele [JHC] pode alegar que foi um momento formal; é a mesma coisa de você se separar da mulher e é a formatura da sua filha: você tem que tirar uma foto com a sua filha e sua ex-esposa”. (Foto: reprodução)

As demonstrações recentes de aproximação entre o prefeito de Maceió, JHC (PL) e o frente política denominada convencionalmente como “Os Calheiros” não é garantia de que o atual chefe do Executivo municipal não sairá candidato em 2026.

A avaliação é do analista político Marcelo Bastos, proprietário do instituto MB Pesquisas.

O analista frisou que, oficialmente, apesar dos acenos e indicações de que o grupo do prefeito, cujo articulador é o pai, o ex-deputado federal João Caldas, e seu atual suposto antagonista – liderado pelo senador e candidato à reeleição Renan Calheiros – para JHC seguir até o fim de seu mandato na Prefeitura de Maceió, não se tem um elemento importante.

A avaliação foi feita em entrevista ao programa MCZ Notícias, com os jornalistas João Mousinho e Natália Barros.

“A questão de que JHC não será candidato a nada, que vai ficar na Prefeitura”, cita Bastos, acerca do pretenso acordo – que já teria sido firmado.

“A grande indagação que eu faço é: você viu algum pronunciamento de JHC a respeito disso?”, questiona.

E responde: “não: ele mantém o silêncio como resposta”.

No momento, o acordo passaria pela condução da tia de JHC, a ministra nomeada do STJ Marluce Caldas.

O suposto acerto implica ainda JHC, além de concluir seu mandato na Prefeitura, apoiar ou não concorrer com nomes do grupo dos Calheiros ao governo e a uma das duas vagas ao Senado que estarão em disputa em 2026.

A ex-integrante do Ministério Público de Alagoas, já foi nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas, como é a norma para condução de integrantes dos tribunais superiores – como STJ e STF –, ainda terá que passar por aprovação do Senado.

O relator de seu processo de indicação é o senador por Alagoas Fernando Farias (MDB), que está no cargo pela condição de ter sido suplente quando da eleição do ex-governador Renan Filho, nomeado no início da gestão Lula para o Ministério dos Transportes.

A foto em que aparecem a ministra nomeada ladeada pelo prefeito JHC e pelo ex-governador foi, aliás, um dos elementos citados pelo apresentador João Mousinho para atestar a aliança.

“Se, em abril, ele renuncia e se for candidato [pode alegar], foi um momento formal, da nomeação dela, ela é uma alagoana, ele [Renan] é senador e ministro da República, não vejo nada do outro mundo”.

E ilustrou:

“É a mesma coisa de você se separar da mulher e é a formatura da sua filha: você tem que tirar uma foto com a sua filha e sua ex-esposa”.

E, como lembrado pela jornalista Natália Barros, seja qual for a posição adotada por JHC, ele vai “trair alguém”: o atual grupo do governo, caso ratifique o suposto acordo, ou seu atual vice, Rodrigo Cunha – que, até o momento, não auferiu benefícios da aliança com JHC para a Prefeitura.

“Na eleição de 2024, ele [JHC] foi reeleito com 83% dos votos válidos”, relembra Bastos.

Segundo o analista, pela prática política, o acordo para formação da chapa seguramente passaria pela proposta a Cunha – para ser candidato a vice – para que este renunciasse ao mandato de senador.

A vaga foi ocupada pela mãe de JHC, que hoje está na terceira cadeira por Alagoas no Senado.

“Ninguém abre mão de dois anos de mandato, para ser vice, sem ele [JHC] ter dito: ‘você vai ser meu vice porque em abril de 2026 eu vou deixar a Prefeitura e eu quero alguém da minha confiança [para ficar] porque eu serei candidato ao Governo ou ao Senado”, avalia Bastos.

“Com certeza, o Rodrigo Cunha foi [no projeto] dentro dessa promessa”, acrescentou.

Para atestar a projeção de que JHC deverá confirmar essa estratégia está a condição – hoje – fiadora da suposta aliança com o grupo adversário: a condução de Marluce Caldas para o STJ.

“O Lula já nomeou; ele não pode mais ‘desnomear’”, diz.

Depois da confirmação pelo Senado, segundo ele, o prefeito JHC estaria liberado para, em abril, manter o acordo com seu atual vice-prefeito.

“Seja a posição que tomar, ele [o prefeito] vai deixar alguém pelo caminho”, indagou a apresentadora – Bastos confirmou que manter o acordo com um dos lados significa desfazê-lo com o outro.

Ou, como definiu o analista: “que ele [JHC] não cumpre acordo”.

Mas, apenas num dos casos, Bastos avalia que JHC dará “um tiro no pé”: se mantiver a aliança com o grupo dos Calheiros.

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