Descoberta de sal-gema em Alagoas foi por acaso

Descoberta do valor do minério coube a empresário baiano da oficina que recebeu sondas para reparo
À esquerda, praias da Avenida e Sobral, nos anos 1970 (com as obras de abertura da Av. Assis Chateaubriand – ainda de calçamento) e, à direita, a construção da fábrica de cloro-soda, o campo de salmoura e o terminal marítimo, em Maceió, que teve início em 1974. (Foto: reprodução/Acervo/MISA e Acervo/APA)

Segundo relatório apresentado à Codeal, em junho de 1970, pelo professor Abel Tenório Cavalcante, os poços eram os Al-2 e o Al-3 e a empresa constatou “a existência de 80m de sal-gema, de alta pureza, na região de Maceió, a uma profundidade de 1.000 metros”.

Em 1941, nem a empresa contratada e nem o CNP deram importância à descoberta. Quem achou que a sal-gema tinha valor foi o empresário baiano Euvaldo Freire de Carvalho Luz, que era o proprietário da oficina que recebeu as sondas para reparo e percebeu nelas os fragmentos do mineral.

Interessado em explorar a descoberta, Euvaldo Luz procurou o governo Federal em 1944 para obter a concessão, mas descobriu que tal benefício já tinha sido outorgado a um grupo internacional com validade de 22 anos. Para sua sorte, em 1964, a concessão caducou, o que lhe permitiu obter o direito de exploração pelo Decreto nº 59.356 de 4 de outubro de 1966.

Autorizado por este Decreto, Euvaldo Luz iniciou a pesquisa para encontrar sal-gema “em terrenos de sua propriedade e do Domínio da União, da Lagoa do Norte no distrito e município de Maceió, no Estado de Alagoas, numa área de quinhentos hectares (500 ha)”.

Os estudos geológicos, entretanto, começaram antes, em 1965. No ano seguinte, o empresário, percebendo a grandeza do projeto e o interesse das grandes empresas do ramo, procurou os grupos Dow Química e Solvay tentando atraí-los para o empreendimento.

A Dow Química, depois de saber detalhes da proposta e de sua viabilidade econômica, montou seu próprio projeto e tentou chegar primeiro que a Euluz S/A na Sudene para conseguir a autorização.

Segundo o jornalista Calazans Fernandes em sua coluna Polígono no Diário de Pernambuco de 4 de novembro de 1966, “Não fosse estar a equipe do Departamento de Industrialização da Sudene alerta, no momento da entrada da proposição da Dow Chemical e ela teria chegado primeiro que o grupo Euluz, merecendo, assim, uma resposta anterior a do outro”.

A firma Salgema Indústrias Químicas Ltda surgiu em 1966 com a participação da Euluz S/A e Euvaldo Luz.

Ainda em 1966, a Union Carbide também declarou o interesse em participar do projeto. Entretanto, em 1968, quando a Sudene autorizou a sua participação, que era de 50%, esta empresa se retirou e entrou em seu lugar a Dupont, também com autorização da Sudene.

Segundo o professor Abel Tenório Cavalcante, pesquisas realizadas em 1968 pelos técnicos da Petrobras, Álvaro A. Teixeira e Luiz A. R. Saldanha, “comprovaram para a área de Maceió, uma reserva de 0,5 bilhão de toneladas de sal e para a área do Aeroporto dos Palmares-Barra de Santo Antônio, uma reserva de 20 bilhões de toneladas”.

Em 1971 foi a vez do BNDE aderir ao projeto. Nesse período Euvaldo Luz detinha 45% das ações, o BNDE controlava outros 10% e a Dupont possuía 45%. Preparando a estatização da empresa, o governo, por meio do BNDE, duplicou o capital, que era de 70, para 140 milhões de dólares.

O Grupo Euvaldo Luz não teve como acompanhar esse nível de investimento e se retirou, vendendo sua participação para o próprio BNDE. Estas ações depois foram repassadas para a Petroquisa em junho de 1975, que passou a dividir com a Du Pont o controle da estatal Salgema Indústrias Químicas S/A.

A construção da fábrica de cloro-soda, o campo de salmoura e o terminal marítimo, em Maceió, tiveram início em 1974. A produção comercial só teve início em fevereiro de 1977 e a unidade de dicloretano, em 1979.

Entre o final de 1975 e junho de 1977, foi construído o Terminal Marítimo da Salgema, instalado a poucos metros da planta industrial.

A unidade produtora de eteno a partir do álcool passou a funcionar em dezembro de 1981, eliminando a necessidade de importação da nafta para a produção de dicloretano.

Em 1981 a empresa teve lucro pela primeira vez. O ganho de Cr$ 10 milhões foi atribuído por seu presidente, Ronaldo Miragaya, ao crescimento das exportações, que tinham aumentado em 30 vezes.

Nesse período tem início a participação da Norquisa e Copene. Em seguida a Odebrecht adquire participação no capital da empresa em Alagoas e em outras unidades, nascendo a Odebrecht Química S.A., que nos anos 90, com o processo de privatização do setor petroquímico, amplia o seu controle sobre outras empresas criando a OPP Petroquímica S.A e a Trikem S.A.

Hoje, a exploração da sal-gema em Alagoas é realizada pela Braskem.

O local

Quando da escolha do local para a construção da indústria durante o governo de Divaldo Suruagy, o coordenador do projeto de implantação era o economista Beroaldo Maia Gomes.

Em entrevista ao deputado Mendonça Neto em 1982, Beroaldo esclareceu que a escolha foi feita por um grupo de técnicos que veio dos Estados Unidos e que dele participava o vice-presidente da Dupont: “Eles acharam que o único lugar adequado, possível na época, seria onde hoje a Salgema está instalada. Era lá ou em nenhum outro local. Eu ainda sugeri outras áreas; mas não foi possível dissuadi-los. Eles garantiram que não haveria riscos para a população”.

O momento mais crítico provocado pela localização da empresa ocorreu no início da manhã de 31 de março de 1982, quando uma “violenta explosão, seguida de chamas que alcançaram cerca de 15 metros” (Gazeta de Alagoas, 1º/04/1982) atingiu a unidade de Diocloretano.

“Houve pânico, com correrias, desmaios e choros por parte dos moradores e familiares dos funcionários da empresa. As ruas próximas a Salgema, embora chovesse muito em Maceió, ficaram movimentadas, com o povo procurando abandonar suas casas”, noticiou a Gazeta de Alagoas.

Pelo menos cinco pessoas foram atendidas na Unidade de Emergência Dr. Armando Lages. Vinte e cinco dias após a explosão faleceu no Hospital dos Usineiros o trabalhador Genival Ribeiro dos Santos, 44 anos, vinculado a uma empresa terceirizada. Morreu em consequência de queimaduras de 1º, 2º e 3º graus.

Publicado em 22 de novembro de 2015 por Edberto Ticianeli

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