Polícia prende acusado de chefiar ataque a MST em SP que deixou dois mortos

Segundo a Polícia Civil, o homem foi reconhecido pelas vítimas, por testemunhas e confessou o crime
Valdir do Nascimento de Jesus, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, foram atingidos pelos disparos e morreram; a polícia faz buscas pelas outras pessoas que participaram do ataque. (Foto: reprodução / divulgação / MST)

A Polícia Civil informou que prendeu, neste sábado (11), um homem acusado de ter participado do ataque a um assentamento do MST em Tremembé, no interior de São Paulo.

Duas pessoas foram mortas e seis ficaram feridas.

Em entrevista coletiva, Marcos Ricardo Parra, o delegado seccional de Taubaté, informou que o homem preso tem 41 anos e é apontado como a pessoa que chefiou o ataque.

Segundo o delegado, os policiais conseguiram chegar até o homem, pois, no momento da invasão, os criminosos não cobriram o rosto.

Com isso, o suspeito, que já era conhecido na comunidade, foi identificado por vítimas que estão hospitalizadas e por testemunhas que presenciaram o crime.

Ainda segundo Parra, o homem foi detido e na delegacia confessou para os policiais que ele participou do ataque no assentamento.

Agora, comparsas são procurados por participação no crime.

Não há uma estimativa de quantas pessoas cometeram o ataque.

“Ele confessou o crime”, afirmou o delegado seccional Marcos Ricardo Parra.

Não só confessou, como ele está indicando onde podem ser encontradas as demais pessoas (que participaram do ataque)”.

“Além de confessar o crime, ele foi reconhecido por algumas das vítimas e testemunhas”.

“A gente trabalha na condição de certeza da participação dele”.

O delegado alega que o motivo do ataque ainda é investigado, mas que tem relação com uma disputa por um lote do assentamento.

“Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local”.

“Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, contou o delegado.

“O homem e seu grupo estariam lá para, num primeiro momento, intimidar, mas, como não intimidou e aconteceu, na verdade, uma repulsa da presença deles lá, a gente tem o nascimento de um confronto envolvendo arma branca e arma de fogo e levou a gente para esse resultado trágico de várias mortes e várias pessoas lesionadas”, completou.

Por fim, o delegado explicou que ainda não foi descoberto se o homem que foi preso queria adquirir o terreno ou se estava fazendo a negociação para um terceiro, mas que o problema teve início por causa da disputa por um lote.

“A motivação foi o problema interno de pessoas do próprio assentamento, entre elas, ou seja, sem nenhuma conotação com invasão ou proteção de terra”.

“Foi uma cobrança de posição em relação à permissão de negociar o terreno ou não”.

“A gente não conseguiu, até agora, entender se ele era o adquirente ou se ele era o intermediário”.

“Seja como for, ele estava lá para modificar o pensamento dos demais”, disse Parra.

Foram apreendidas armas brancas (como foices e facas) e armas de fogo, além de um carro.

Tudo passará por perícia, na tentativa de identificar digitais dos criminosos.

A Polícia Militar informou que reforçou o policiamento na área do assentamento.

Investigação da Polícia Federal

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) determinou, na tarde deste sábado (11), que a Polícia Federal (PF) instaure um inquérito para investigar o ataque que ocorreu em um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Tremembé, no interior de São Paulo.

Dois homens foram mortos a tiros e seis pessoas ficaram feridas após serem baleadas, na noite desta sexta-feira (10), na comunidade.

No ofício enviado para a Polícia Federal, o ministro em exercício, Manoel Carlos de Almeida Neto, citou que houve violação aos direitos humanos das famílias que fazem parte do assentamento.

Ainda segundo o Ministério, uma equipe da Polícia Federal – com agentes, perito e papiloscopista – foi até o assentamento neste sábado (11) para dar início às investigações sobre o crime.

Ataque a assentamento do MST em Tremembé (SP) deixa mortos e feridos

O ataque

Dois homens foram mortos a tiros e seis pessoas ficaram feridas após serem baleadas, na noite desta sexta-feira (10), durante um ataque a um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), na zona rural de Tremembé, no interior de São Paulo.

O caso foi registrado na delegacia de plantão em Taubaté e é investigado pela Polícia Civil de Tremembé como homicídio e tentativa de homicídio.

De acordo com o boletim de ocorrência, o crime aconteceu por volta das 23h, no assentamento Olga Benário, que fica na Estrada Kanegae.

Ainda segundo o documento, testemunhas e sobreviventes relataram para a polícia que cinco carros e três motos invadiram o local durante a noite e que as pessoas dos veículos efetuaram diversos tiros contra os moradores do local.

Consta no boletim de ocorrência que Valdir do Nascimento de Jesus, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, foram atingidos pelos disparos, não resistiram aos ferimentos e morreram no local.

Outras seis pessoas que moram na comunidade foram baleadas e ficaram feridas.

Os sobreviventes são três homens e três mulheres.

Os baleados foram socorridos e levados para o Hospital Regional de Taubaté e para o pronto-socorro de Tremembé.

Não há informações sobre o estado de saúde dos feridos.

O assentamento é regularizado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) há cerca de 20 anos para o Movimento dos Sem Terra.

Segundo a assessoria do MST, cerca de 45 famílias vivem no local.

Ministério Agrário emite nota de repúdio

O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar emitiu uma nota de repúdio, informando que “repudia o crime e manifesta solidariedade e apoio aos assentados da reforma agrária, especialmente às famílias de Valdir do Nascimento e do jovem Gleison Barbosa Carvalho, brutalmente assassinados neste caso”.

Ainda segundo a pasta, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, “entrou em contato com autoridades estaduais e nacionais da área da segurança pública para pedir providências e punição do crime que classificou como bárbaro”.

Ministério dos Direitos Humanos diz que vai reforçar proteção

O Ministério de Direitos Humanos e Cidadania informou que as vítimas fatais do ataque são “o senhor Valdir do Nascimento (Valdirzão), o jovem Gleison Barbosa de Carvalho e Denis Carvalho, todos assentados do Olga Benário”.

A pasta informou que “está buscando mais informações sobre os fatos ocorridos e oferecerá assistência para as lideranças do assentamento e sua coletividade”.

Ainda segundo o Ministério, “o grave ataque contra o assentamento do MST e o assassinato de lideranças soma-se aos alertas anteriores para a urgência de fortalecimento das políticas de proteção aos defensores de direitos humanos que integrem as esferas federal e estadual, os sistemas de Justiça e de Segurança Pública e as redes de proteção”.

Em 2025, o Ministério informou que “vai reforçar suas ações para o fortalecimento das práticas coletivas de proteção das comunidades, associações, grupos, organizações, coletivos e movimentos da sociedade civil que fazem a proteção popular desses agentes”.

G1 Vale do Paraíba e Região

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