Haddad não descarta “ataque especulativo”, mas acredita em “acomodação” do dólar

Analistas aguardam tramitação do pacote do corte de gastos no Congresso Nacional
Ministro da Fazenda disse acreditar que, em um momento de pendência do pacote fiscal, sob análise do Legislativo, a moeda dos EUA terá oscilações maiores. (Foto: reprodução / Diogo Zacarias / MF)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou nesta quarta-feira (18) que a equipe econômica pode adotar, no futuro, novas medidas de cortes de gastos.

As declarações foram dadas durante entrevista na portaria do Ministério da Fazenda.

Ele tem almoço agendado com o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, para tratar da tramitação do pacote de cortes de gastos.

“Eu nunca falei que isso [processo de cortes de gastos] é um trabalho que se encerra”.

“Não se encerra, nós vamos acompanhá-lo”.

“Vamos fazer uma avaliação do que foi aprovado, nós temos também a questão da desoneração da folha que tem uma pendência no Supremo que nós vamos resolver”, afirmou o ministro a jornalistas.

Diante da disparada do dólar e dos juros futuros, que servem de base para as taxas bancárias, ele não descartou a possibilidade de estar ocorrendo um ataque especulativo à economia brasileira.

“Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso”, declarou Haddad.

“Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso”.

“Mas pode estar havendo [ataque especulativo]”.

“Não estou querendo fazer juízo sobre isso porque a Fazenda trabalha com os fundamentos”.

“E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do tesouro e Banco Central”.

O Banco Central efetuou, nos últimos dias, intervenções no câmbio, por meio da venda de moeda dos EUA no mercado à vista e, também, dos chamados leilões de linha (venda com compromisso de recompra, como se fosse um empréstimo).

Mesmo assim, o dólar tem operado pressionado, enquanto analistas aguardam o andamento da tramitação do pacote de cortes de gastos no Congresso Nacional.

Nesta quarta-feira, chegou a R$ 6,17 por volta das 11h, e a R$ 6,15 às 12h15. Veja mais cotações.

Por fim, o ministro lembrou que a economia brasileira atua com o chamado câmbio flutuante, com o dólar oscilando, para cima e para baixo, de acordo com os movimentos do mercado — e eventuais intervenções por parte do Banco Central, que, em tese, servem para corrigir distorções e problemas de falta de liquidez.

Ele disse acreditar que, em um momento de pendência do pacote fiscal, sob análise do Legislativo, a moeda norte-americana terá oscilações.

“Mas eu acredito que ele [dólar] vai se acomodar”, disse o ministro da Fazenda.

“Eu tenho conversado muito com as instituições financeiras”.

“A previsão de inflação para o ano que vem, a previsão de câmbio paro ano que vem”.

“Até aqui, nas conversas com as grandes instituições, as previsões são melhores do que os especuladores estão fazendo”.

“Mas, enfim, o câmbio futuro o Banco Central tem feito intervenção”.

“O Tesouro passou a atuar na recompra de títulos”.

“E eles vão continuar acompanhando até estabilizar”, concluiu o ministro da Fazenda.

Pacote de cortes de gastos

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (17) uma proposta que proíbe a ampliação de benefícios fiscais em caso de resultado negativo nas contas públicas.

Esse projeto é o primeiro do pacote de corte de gastos enviado pelo governo ao Congresso na tentativa de conter as despesas públicas.

Alexandro Martello, Lais Carregosa — G1 / Brasília

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