Caso de irmão de JHC vira debate acirrado na Assembleia

Oposicionista criticou prisão de PMs – “atitude covarde” – e governistas rebateram: “amigos do prefeito não falaram nada” sobre agressão
Plenário da Assembleia: caso de âmbito pessoal adquiriu, sim, conotação política. (Foto: reprodução)

O episódio envolvendo o médico João Antônio Holanda Caldas, irmão do prefeito de Maceió, JHC (PL), provocou acalorado debate político na sessão desta quarta-feira (22), na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE).

Com direito a desabafo, intervenções reforçando ou rebatendo e até um “enquadramento”, em que o presidente do Legislativo, deputado Marcelo Victor (MDB), repreendeu o líder do governo, que, em sua manifestação, violava o Regimento Interno da Casa, a repercussão do caso garantiu temperatura à parte mais parlamentar (de debates), após os trabalhos mais legislativos (de se debruçar sobre leis, emendas e requerimentos), que também estão entre as atribuições dos integrantes da Assembleia alagoana.

O caso teve início com pronunciamento do deputado estadual Cabo Bebeto (PL), integrante da oposição, que criticou o governador Paulo Dantas (MDB).

Na véspera, o chefe do Executivo de Alagoas anunciara a prisão dos PMs que atuaram no atendimento ao chamado da vítima do caso de suposta agressão cometida pelo irmão do prefeito.

Ao citar a prisão, o deputado, que foi PM e da mesma turma de formação do sargento PM Silvanilson Gomes dos Santos, o deputado não poupou críticas ao governador:

A atitude dele foi covarde, o homem que diz ter o coração trabalhador, não teve coração”, ironizou, referindo-se à prisão dos PMs – entre os quais o sargento.

“Se bateu ou não na mulher não interessa”, acrescentou o parlamentar, referindo-se ao episódio.

“Eu não vou passar a mão na cabeça de quem bate em mulher, mas, mandar prender trabalhador…”, voltou a criticar.

Ele disse que o sargento trabalhava há mais de vinte anos como supervisor e que mesmo sendo uma função espinhosa, tem conduta ilibada e é respeitado entre colegas de tropa e entre os oficiais, seus superiores.

“Isso desmotiva todo o batalhão”, disse.

O líder do governo na Assembleia, deputado Sílvio Camelo (PV), pediu um aparte – para fazer uma intervenção, durante o pronunciamento.

E questionou se o colega se referia ao episódio do qual se fala desde o fim de semana – visto que até então Cabo Bebeto não tinha citado o caso nominalmente.

O deputado Cabo Bebeto não respondeu e o presidente da Mesa diretora lembrou que não é permitido, pelo Regimento Interno da Assembleia, um deputado fazer aparte ao pronunciamento de outro e, neste, fazer uma inquirição, um questionamento.

O líder do governo teve de reformular a colocação, citou o combate à violência empreendido pelo governo, ser uma gestão que tem a maioria dos cargos de primeiro escalão ocupada por mulheres e, por fim, tratar-se de um caso de violência contra a mulher.

“Vocês, amigos do prefeito, não falaram nada do caso; quando o governador toma uma atitude enérgica, vêm criticar”, questionou Silvio Camelo.

O deputado Fernando Pereira (PP) endossou as críticas ao governo e citou atrasos no repasse para a saúde em unidades como UPAs e hospitais (a exemplo do de Coruripe), além dos núcleos do SAMU em diversos municípios, entre os quais, São Miguel dos Campos (que está com uma ambulância parada, em conserto).

E acerca do discurso da bancada governista de que há preocupação das autoridades estaduais para com a saúde e a atenção com a mulher, Pereira foi taxativo: “isso é tudo ‘migué’; só isso” (expressoa popular que significa algo como enganação).

O deputado Ronaldo Medeiros (PT) criticou a postura do autor do pronunciamento:

“Aqui, a gente deveria estar discutindo, Cabo Bebeto, a agressão a uma mulher, esse é o fato grave de tudo”, disse o parlamentar.

E leu documento sobre a ocorrência citando que um integrante da corporação, que trabalha junto ao Gabinete do prefeito de Maceió dificultou o acesso da vítima à sala em que seria atendida.

Daí o oficial superior Ten.Cel.PM Luís Santos da Silva determinar a prisão do 2º Sgto PM Silvanilson Gomes dos Santos e do Sldd PM Fabrício José de Soza, por atitude compatível de ser enquadrada como desídia – algo como falta de cuidado, descuido ou desleixo.

Mas, numa espécie de réplica, o autor do pronunciamento citou que desde o episódio, aquela era a segunda sessão da Casa – houve a anterior, da terça-feira (21) –, mas, em que não se tocou no assunto.

Pela manhã, houve discussão sobre o mesmo episódio na Câmara Municipal de Maceió.

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