Movimento de mulheres é expulso de evento destinado… às mulheres

Evento era promovido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, e movimento trouxe faixa com dizeres sobre PL do Estuprador
Grupo de Mulheres: expulsão causou mais desgaste do que se tivessem feito manifestação – e olhe que evento era para mulheres parlamentares. (Foto: reprodução)

A situação foi, no mínimo, constrangedora para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP–AL).

Mas, não pelo episódio em si e sim pela contradição que demonstrou e a exposição da face não democrática do condutor de uma das Casas do Congresso Nacional.

Explica-se: o Centro de Convenções de Maceió recebeu um evento de porte nesta segunda-feira (1º), um encontro de mulheres parlamentares de países que compõem o G20.

O evento era encabeçado por Lira.

Em dado momento, um grupo de manifestantes tentou promover um ato público.

Porém, não estava na programação.

Aconteceu o quê?

Foram colocados para fora.

Aparentemente, nada mais lógico – mas, há um porém: a concordância de gênero para o verbo não de ligação na frase anterior mais correta é no feminino, ou seja, “foram colocadas”.

O grupo era formado… adivinhem… por mulheres, mais precisamente do Movimento de Mulheres Olga Benario (nome em homenagem à militante e líder comunista de origem alemã Olga Benario, deportada pelo regime de Getúlio Vargas, grávida, para a Europa, em pleno regime nazista, onde morreu em campo de concentração).

O motivo: sua linha ideológica, liderança e ser companheira de Luís Carlos Prestes, um dos mais dirigentes do PCB naquele período.

Mas, voltando ao cenário local: ao tentar promover o ato público, o grupo de mulheres foi expulso, pela PM, de um evento de mulheres – parlamentares; o que pressupõe o direito à manifestação.

E nem sequer na rua puderam ficar: segundo a liderança do Movimento e uma das participantes da manifestação, Lenilda Luna, a orientação passada pelos militares é de que elas teriam que se posicionar após uma série de cones dispostos na rua Celso Piatti, que foi interditada para o evento.

O suposto motivo para a expulsão: uma faixa com os dizeres “Abaixo o PL do estupro – Fora Arthur Lira – Criança não é Mãe – Estuprador não é pai”, além de cartazes de mão com inscrições como “Arthur Lira é inimigo das mulheres”, “Mulheres parlamentares – Arthur Lira odeia vocês”.

Faixas, aliás, que pulularam pelo país nas manifestações desencadeadas pela manobra de Lira para fazer passar o regime de urgência para o projeto de lei que pretendia punir alguém que recorresse ao aborto após a 22ª semana de gestação com mais severidade do que o próprio estuprador.

Tamanha foi reação popular à proposta, que o projeto de lei não apenas não foi ao plenário, como acabou tirado de pauta e deve – agora, sim – passar pela discussão e debates devidos em mais de uma comissão da Câmara dos Deputados.

Ao lado da condenação à proposta em si, as manifestações por todo o Brasil – frise-se: todo; de reuniões a entrevistas, debates, passeatas e depoimentos em redes sociais – associaram o nome de Lira ao que havia de negativo na proposta; do conteúdo à manobra para dar-lhe urgência.

Como citam analistas políticos: “colaram” o PL a Lira – e o desgaste do episódio como um todo.

Em outras palavras, disseram em escala muito maior o que diziam os cartazes e a faixa erguida pelo grupo de manifestantes, no Centro de Convenções, nesta segunda-feira.

Com a diferença de a integrante da manifestação registrar o momento da expulsão.

“Movimento de Mulheres Olga Benario é expulso pela PM e pela PF do centro de Convecções de Maceió, onde terá início a reunião de mulheres parlamentares do G20, por abrir faixa contra o PL do Estupro”, alardeou, em mensagens disparadas em redes sociais.

“Cadê a democracia?”, concluiu Lenilda.

O jornalista Odilon Rios também repercutiu a ocorrência, em seu blogo:

“Após pautar – e recuar – a urgência do PL do aborto na Câmara, Arthur Lira recebeu, em Maceió, mulheres parlamentares dos países que compõem o G20”, escreveu.

“Do lado de fora do centro de convenções, cartazes assinados pelo coletivo Olga Benário diziam em inglês que Lira era inimigo das mulheres”, diz trecho seguinte.

“Novo desgaste ao presidente da Câmara que quase se colocou ao lado dos estupradores na PL do Aborto”, enfatizou Rios.

“Quase porque o projeto ainda não foi para a gaveta”.

Como atesta, as manifestantes foram expulsas, sim.

Mas, em nenhum momento, ficou para elas o constrangimento – aliás, muito pelo contrário.

Além de tudo, ainda prestaram o digníssimo e muito cidadão dever de mostrar esse componente que muitos já conhecem de Arthur Lira, mas, que vale a pena ser ratificado, sempre que possível.

Desgastaram-se organizadores, instituição Polícia Militar e, claro, os responsáveis pelo evento.

Bastava ter deixado que a manifestação transcorresse.

Haveria desgaste, sim, mas, seria menor.

O espaço procurou a organização do evento que não se manifestou.

O espaço segue aberto às manifestações.

Também consultada, a PM informou que, a despeito de as imagens mostrarem a ação de militares na área externa, a “segurança interna do evento é responsabilidade da Polícia Legislativa”.

 

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